Uma casa em desmancho

Ações poéticas no espaço urbano
 

Didonet Thomaz*

 

Resumo. Com este Projeto denominado Uma casa em desmancho. Teatro monótono: 1992-2007, pretende-se perceber e identificar as atuais dimensões de espaço e tempo com a finalidade de estabelecer novas e profundas relações poético-visuais partindo do fenômeno da desconstrução-construção do acontecer total na estética do cotidiano. Apresento o Diário de pesquisa e os Entrópicos fotográficos como resultados da fragmentação e da montagem, focando a desordem no sistema da casa localizada à Rua Dr. Trajano Reis, 571, em Curitiba, Paraná, onde foram observados deslocamentos e transformações até o esvaziamento e o desmancho. Penetrar na síntese como possibilidade de ver, em movimento, mediante os recursos ambíguos da videoarte; o destino se encaminha por meio de ações poéticas no espaço urbano.

 

Resumen. Con este Proyecto nombrado Una casa en desguace. Teatro monótono: 1992-2007, se pretiende percibir e identificar las actuales dimensiones de espacio y tiempo con la finalidad de establecer nuevas y profundas relaciones poético-visuales partiendo del fenómeno de la desconstrucción-construcción del acontecer total en la estética del cotidiano. Presento el Diario de pesquisa y los Entrópicos fotográficos como resultados de la fragmentación y del montaje, planteando el desorden en el sistema de la casa ubicada en la Calle Dr. Trajano Reis, 571, en Curitiba, Paraná, donde fueron observados desplazamientos y transformaciones hasta el vaciamiento y el desguace. Penetrar en la síntesis como posibilidad de ver, en movimiento, mediante los recursos ambiguos del videoarte; el destino se encamina a través de acciones poéticas en el  espacio urbano.

 

Abstract. Through this Project, entitled Tearing down the house. Monotonous theater: 1992-2007, we intend to perceive and identify the current dimensions of time and space with the intent of laying down new and profound poetic and visual relationships from the deconstruction-construction phenomenon of the total event in the esthetics of the quotidian. We present the Research diaries and the Photographic entropics as the result of the fragmentation and the assembly focusing on the disorder in the system of the house located on 571, Dr. Trajano Reis Street, in Curitiba, Paraná, where displacements and transformations were observed until its emptying and tearing down. Entering the synthesis as a possibility of watching, in movement, through videoart ambiguous resources; destiny makes its way by means of poetic actions in urban space.

 

 

Diário de pesquisa

Ao Nestor Stenzel (in memoriam)
 

05 de fevereiro de 1992. Idéias, cenas do cotidiano, pensamentos. Há palcos por todo lado; infinidades de toldos ligam-se a eles. Essas cobertas capazes de cobrir, o todo ou partes do todo, ajudam a criar ambientes de soberbos mistérios. No papel tudo fica estático, em estado de mandraca. Mas minha imaginação vê seres circulando por ali. É provável que esses cenários se transformem em campos de balé ou puro teatro, algum dia, no futuro, como de certa forma já foram, no passado. Apreendo as quase idéias dos achados, carregando comigo o mínimo delas, representadas em estruturas de poucas linhas. Esqueletos cênicos. Tudo rápido e fácil de fazer, em qualquer restinho de papel, apoiada sobre um braço de cadeira ou naco de mesa. E se isto não for possível, me ausento mentalmente. Nos encontros sociais, enquanto as pessoas conversam, riem, ouvem ou pensam vou povoando a memória com as linhas daquilo que posso ver ou tocar, às vezes. Sugar as coisas não me traz satisfação; mas ajuda a retornar a uma essência que está no devir. Não rejeito, nem paro: atravesso o mecanismo. Folheando uma revista, vi uma estampa de interior doméstico: um quarto com uma cama de dossel. O resultado gráfico foi um toldo grande (correspondendo ao retângulo da peça) e outro menor (correspondendo ao retângulo da cama); ambos com suporte em forma de tachinha. Pareciam as velas de uma embarcação! Enfim, a cama é o berço do homem. Os sonhos da mais grandiosa viagem que é a sua vida, ele faz deitado nela, onde estiver. Ao pensar isto, concluí que estava livre da imagem primordial (a cena do quarto com a cama de dossel) mas que sem ela (a imagem primordial) não teria chegado aonde cheguei. Desvendar as armadilhas da memória (mnemônica), o cotidiano que estiver soterrado em cada desenho me faz sentir menos afetada e vazia. Vem à mente O Sétimo selo e o homem de Bergman que joga xadrez com a morte, tentando ludibriá-la para ganhar tempo. Ficha técnica: “... Depoimento... 05 de fevereiro de 1992... 17h00min. até 18h45min. ...”.

11 de fevereiro de 1992. Comecei pela frente a desenhar a cama e a cortina cujo toldo com roldanas era teatral; engenhoca que subia e descia, permitindo a expansão da visão além das janelas. De uma estamparia floreada, colorida, belíssima de rosas. Tudo singelo, silencioso. Acima do camiseiro, três molduras redondas sufocavam silhuetas. Em lugar do recorte em papel, bordados em linhas pretas sobre panos amarelados, motivo de anjos, ou crianças, ou cupidos em atividades. Reduzi a tortos riscos a obra de carpintaria, marcenaria e entalhe. Lupa escrava. Observei a textura de folhas peludas, antes de sair. Revi Morte em Veneza por Luchino Visconti. Havia esquecido aquela decadente paixão de pinturas escorrendo pelo rosto fascinado pela beleza. Ficha técnica: “... Registro... 11 de fevereiro de 1992... 10h00min. até 11h30min. ...”.

20 de fevereiro de 1992. Esses alemães gostavam de ar livre, de Picniks às margens das águas, onde se banhavam; às vezes vestidos, seminus ou nus. Pareciam saudáveis, alegres, divertidos, grupais, teatrais. Deixaram cenas-mudas, usando trajes esportivos, elegantes, ou carnavalescos como, por exemplo, de garrafa de cerveja (construída para uma pessoa entrar dentro), de pirata e de ambulante. Criaram formas, de modo que a distância entre as extremidades superiores (cabeças de homens e mulheres) e inferiores (pernas, pés de outros homens e outras mulheres) foi completada por uma coberta, enfim por um corpo, aplanado, largo e longo: em princípio, pensei na possibilidade de considerar como ilusionista esta revelação do teatro doméstico feita em 1929. Em outra foto do mesmo Álbum os convidados apontam com o dedo para a aniversariante que segura um buquê de flores apontando para si mesma. Ficha técnica: “... fotografias... 20 de fevereiro de 1992... 10h15min. até 12h35min. ...”.

25 de agosto de 1992. Vi a fisiognomia do SÓTÃO, “onde há mistério”, como dizem. Ocupei duas horas abrindo armários e guarda-roupas, malas guarda-roupas e caixas, o balcão. Encontrei livros, álbuns de fotografias, porta-retratos, bonecas e roupas. Desci. Sobre a mesa, coloquei e desenhei em várias posições, um agulheiro de veludo castanho-claro, arredondado, em cuja superfície, pregueada, foi costurada uma miniatura: com as quatro patas sobre pedestal azul, um gato de porcelana branca olha para o espectador com o rabo esticado. O que acontecerá com este bizarro patrimônio? Ficha técnica: “... Registro com depoimento... 25 de agosto de 1992...  15h00min. até 17h00min. ...”.

09 de setembro de 1992. Porta-retratos de formatura com pedestal em madeira e outro em zinco recortado por motivos art-nouveau, vazio. Troféus de campeonato de xadrez, simulacro do tabuleiro em seda pintada com dados de uma vitória de 1932. Esculturas, entalhes, livros e jogos sobre estantes. O curioso estava dentro da gaveta inferior do guarda-roupa, à mostra retratos retocados em p&b e cor, de homem, mulher e criança, mortos com os olhos abertos no papel úmido, inchados pela perspectiva dos vidros bombeados e molduras ovais. Fotografias de grupos em cartões rígidos pressionados por molduras retangulares, empilhadas, cercadas por caixas de lápis e penas para nanquim; livros góticos. Álbum suíço encadernado em veludo verde e aplicações em metal, ilustrações coloridas figurando flores e paisagens na superfície das folhas grossas com suportes para carte-de-visite e carte-cabinet feitas por estúdios estrangeiros e locais, no século XIX. Peguei o Álbum suíço medindo 28,7x22x4cm., caixas de papelão com bustos em porcelana e cabeças de bonecas, corpos de panos, braços, pernas, assentos e espaldares de sofás e cadeiras em compensado, recortados com a serra tico-tico. Sensação de holocausto redimensionado. Desci para desenhar sobre a mesa redonda sob bicos de luz, é cômodo. Guardei os objetos. Ficha técnica: “... Guia da casa... 09 de setembro de 1992... 14h30min. até 17h15min. ...”.

16 de setembro de 1992. Dois porta-retratos, espelho de cristal com oxidações e decalque com flores coloridas, caixa de costura de fundo azul-claro contendo brinquedos quebrados, olhos em porcelana lascada, corpos, 11 pernas, 26 braços, 12 carretéis, linhas da cor da pele, sapatos de couro, recortes de bichos em papelão. Mexi no Álbum de fotografias. Ficha técnica: “... Depoimentos/ Registros do Álbum e caixa de costura... 16 de setembro de 1992... 14h30min. até 16h00min. ...”.

03 de novembro de 1992. A coleção de bibelôs em porcelana branca e translúcida – jovem com ramalhete, marinheiro sentado num barco, holandês no moinho –, apresentava orifícios desocupados por onde enfiar a ponta dos dedos e tatear as saliências e reentrâncias, sombreadas por pintura externa à disposição do olhar focado no interior a ser protegido com buchas de papel ou serviria para guardar segredos enrolados. Impermeáveis, afundariam com a penetração e o peso da água. Depois de arredar as cadeiras, contornei a mesa redonda, fiz exercícios cubistas, alternei os objetos dentro do costureiro-caixa. A performance motivou uma oferta: apontei para uma pescadora apoiada num cesto a dialogar com um sapo sobre rochas e para uma dançarina flamenga. Mais tarde, organizei micro-cenários e introduzi flores no vazio; a solitária que se distinguiu foi colocada sobre a arena de um cilindro-escora, para livros. O restante foi redistribuído na prateleira: menino com barco, tocadores ao lado da bola, dama, elefantes, burros, ferradura com pássaros. Antes de descer, encontrei um conjunto epistolar do período de 1935 a 1941, embrulhei com o mesmo papel usado para desenhar separando por grau de interesse. Cartões. Ficha técnica: “... Bibelôs... 03 de novembro de 1992... 15h10min. até 16h45min. ...”.

05 de novembro de 1992. Teor de atualidade do assunto. O problema da tradução. Informalidade e papel do acaso. Ficha técnica: “... Anotações – Cartas... (1934 a 1941/ português, alemão e inglês)... 05 de novembro de 1992... 14h50min. até 16h45min. ...”.

01 de dezembro de 1992. Lembranças perfuradas pela elaboração dos cupins. Ficha técnica: “... Cartões (continuação)... 01 de dezembro de 1992... 15h00min. até 17h00min. ...”.

17 de março de 1993. Nomeação das coisas percebidas. Captação. Sinais de desinteresse e abandono. A casa e os depósitos, montinhos de papel rasgado. Ficha técnica: “... Baralhos... 17 de março de 1993... 14h50min. até 17h00min. ...”.

01 de junho de 1993. Cartas para jogar (s/ dados) com a morfologia da palavra e a formação do substantivo que dá nome ao ser = “2 Coelho – 2 Onde está a coelha?”; “4 Papagaia – 4 Onde está o papagaio?”; “7 A jacaré – 7 Onde está o jacaré?”; “8 A jabutí – 8 Onde está o jabuti?”; “9 O garça – 9 Onde está a garça?” & “9 A garça – 9 Onde está o garça?”; “10 Perú – 10 Onde está a perua?” & “10 Perua – 10 Onde está o perú?”; “11 Carneiro – 11 Onde está a ovelha?” & “11 Ovelha – 11 Onde está o carneiro?”; “12 Bode – 12 Onde está a cabra?” & “12 Cabra – 12 Onde está a bode?”; “13 O cotia – 13 Onde está a cotia?” & “13 A cotia – 13 Onde está a cotia?”; “14 Tucano – 14 Onde está a tucana?” & “14 Tucana – 14 Onde está a tucano?”; “15 Rato – 15 Onde está a rata?”; “16 Sapo – 16 Onde está a sapa?”. Cartas para jogar Pit = buraco. Bull & Bear = boi & urso (Parker Brothers, Inc. Made in U.S.A). Bolsa de valores. Flax (linho) 40, Hay (feno) 50, Oats (aveia) 60, Rye (centeio) 70, Corn (milho) 75, Barley (cevada) 85, Wheat (trigo) 100. Cartas para jogar Brinkiboy (s/dados), invenções: bússola 1, papel 2, pólvora 3, imprensa 4, dirigível 5, avião 6, microscópio 7, telescópio 8, lâmpada 9, telégrafo 10, telefone 11, radar 12, automóvel 13, usina elétrica 14, bomba foguete 15, vapor 16, relógio 17, barômetro 18, trem 19, pararaios 20, rádio 21, televisão 22, raio X 23, cinema 24, bomba atômica 25. Cartas para jogar com a música d’Os grandes compositores, 3ª edição Melhoramentos da indústria brasileira... Recoloquei os baralhos didáticos nas caixas correspondentes ou disponíveis, alguns incompletos, outros soltos. Sem fixar na memória a ordem anterior, fiz outra pilha na parte inferior da cristaleira preparando a próxima visita. Ironicamente, percebi uma ausência no baralho das invenções – onde está a carta da fotografia? Ficha técnica: “... Baralhos – Histórico... 01 de junho de 1993... 14h45min. até 16h00min. ...”

01 de julho de 1993. Jogos: montagem das variantes. Ruídos reconhecíveis que me tocam e trazem lembranças de partidas perdidas e ganhas nos limites de uma provável toalha verde de uma mesa de jogo. Casa perdida em mesa de jogo. Apostas no futuro de coisas ditas que ouvi. Ficha técnica: “... Baralhos... 01 de julho de 1993... 14h45min. até 16h00min. ...”.

17 de agosto de 1993. Pãezinhos quentes em cruz. Keith Thomas. Religião e o declínio da magia. Pãezinhos fálicos. Bolos antropofágicos.

16 de novembro de 1993. A performance  do jogo e a desordem: reordenamento. Ficha técnica: “... Baralhos... 16 de novembro de 1993... 14h00min. até 16h45min. ...”.

19 de janeiro de 1994. Cartas, partes do todo transfigurado por derramamento de líquidos. Ficha técnica: “... Baralhos... 19 de janeiro de 1994... 15h15min. até 16h30min. ...”.

17 de maio de 1994. Tonalidades centrais e periféricas. Revelações entre cor pura e matizada. Ficha técnica: “... Flores... 17 de maio de 1994... 14h30min. até 16h30min. ...”.

15 de março de 1995. A inclinação da ESTRUTURA DO TELHADO chega na base da platibanda; furtou-se a água e o que sobrou foi aproveitado como vão e a parte central. A troca da calha motivou a descoberta de um esconderijo, com objetos. Como entrar lá? Deslocando um armário, com portas, para livros, embutido na parede do QUARTO 2. Seu movimento foi feito para o lado de dentro, por meio de dobradiças e rodinhas. Puxando vem, como uma porta. Através de uma ou duas telhas de vidro batia luz sobre dois baús, duas malas pequenas e uma grande, colchões e cama de criança, desmontada. No interior dos baús foram encontradas fantasias de carnaval – de camponesa, com tule de algodão branco e avental com rendas e lantejoulas; peças soltas de tule rosa/ roxo/ verde/ branco; veludo preto, cetim verde, tule branco – um pierrô? Blocos de carnaval. Muitas aranhas... marrom. Há livros encadernados, fotografias em sépia e p&b sobre cartões rígidos, frisados, de diversos tamanhos – construções, paisagens, grupos de pessoas; o busto de um casal, fotografia desbotada, emoldurada com madeira de imbuia e dourado. Na verdade, são mortos... Efetivamente, foi difícil para desenhar no vão, perderam-se os detalhes e o resultado ficou como se fosse uma tripa: o pedaço do meio foi engatado com o que veio, em seguida. Preciso desenhar mais para a direita e fazer um círculo. Dobrar a folha de seda e empilhar são modos de desestruturar o desenho. A parede falsa foi removida detrás das camas e a prateleira onde está a coleção de bibelôs – elefante, burro, criança com barco, caneca, jarro, porta-jóias, dançarina flamenga, camponesa com flores, ferradura com flores, tulipa etc. –, ficou desamparada até o assoalho em função do buraco. Ficha técnica: “... Paredes falsas (novas descobertas na construção da casa)... 15 de março de 1995... 14h20min. até 17h00min. ...”.

28 de março de 1995. Fiz a volta girando a cadeira. Mais de metro de desenho. Queria ver o armário-biblioteca, movediça, frente e fundo, e principalmente o que estava no vão. Pontos de cruz da toalha branca: 14.680 pretos; bolinhas da toalha da COZINHA: 12.686... Em princípio, não obtive permissão para passar uma noite na zona de repouso por causa do barulho que vem da rua e do trânsito que provoca a trepidação das coisas; não haveria conforto a me oferecer... Achei que seria interessante observar o aglomerado de cepilho e cola (Erkulit), que parece uma infinidade de cobras ressecadas no FORRO, se mexendo à luz-relâmpago dos faróis dos veículos que passam deixando na memória duplicações do lugar. Essa idéia de movimento e reprodução provocou um choque. Ficha técnica: “... Sala/ quarto em perspectiva horizontal... 28 de março de 1995... 14h30min. até 17h15min. ...”.

06 de abril de 1995. O aquecedor e o encanamento acima do fogão à lenha. Ficha técnica: “... Estudo da COZINHA... 06 de abril de 1995... 14h45min. até 16h45min. ...”.

15/16 de abril de 1995. Conjunto de caixas de papelão. Seis ao todo, uma dentro da outra, da maior à menor, por ordem de cor, vermelha, azul, verde, amarela, laranja e roxa. No último nível do labirinto geométrico foi encontrada uma variante da lenda do Minotauro: Ícaro, idéia-luz. As asas da escultura em porcelana – com pernas e braços móveis por meio de uma engrenagem de arame, medindo pouco mais do que três centímetros –, elas não se apresentam tecidas com penas de pássaros e cera de abelha; parecem camadas esfiapadas de faille, presas ao pescoço por um fio de linha. Ao lado de Ícaro havia um jogador de futebol contemporâneo, de plástico; ambos foram envolvidos com algodão. Certamente não foi o inventor Dédalo que trouxe do mar o filho deslumbrado com o espaço aéreo e o sepultou dentro dessa caixa roxa. Quem colocaria a disparidade lado a lado? Quando e por quê? Qual seria o destino dessa mensagem sobre a liberdade de asas derretidas? Na mesma lata, sem pintura, encontrei cartões de felicitações, um diário e fotografias de pessoas que pereceram durante a Segunda Guerra...

16 de maio de 1995. À tarde quando o céu escureceu para a chuva foi descoberto outro esconderijo dentro do guarda-roupa; do lado interno, na paralela da gaveta grande havia caixinhas dentro de caixinhas com adornos pessoais. À distância do mundo.

12 de julho de 1995. O sofá da sala de leitura e estudo, desdobrado se transformou em cama com um sulco no meio. A cortina rendada fez o efeito de guarda. Sinais de ocupação deixados à propósito da vontade de desenhar. Ficha técnica: “... Cama... 12 de julho de 1995... 15h25min. até 17h20min. ...”.

13 de julho de 1995. Concluí o desenho puro de linhas da cama-berço-embarcação. Não é necessário agregar outros materiais ou fazer recortes, bastando prender os bordos numa base mais dura, por meio de costura espaçada.  Ficha técnica: “... A Cama... 13 de julho de 1995,  14h15min. até 16h35min. ...”.

17 de julho de 1995. Papel picado por ratos no armário sob o vão, no primeiro lance da ESCADA. Reservei cartões, cartas e documentos, além de conservar caixas. Limpei um por um, empacotei e guardei para estudar manobras gráficas com vagar. Objetos embaixo da cama deveriam estar no esconderijo, ao lado da gaveta do guarda-roupa: anéis, pendentifes e broches foram recolocados no baú. Tradução informal equivalente a “toda angústia da alma, impossível de ser tirada dali”. Ficha técnica: “... ESCADA. Cartões, botões, papéis... 17 de julho de 1995... 14h05min. até 17h45min. ...”.

12 de março de 1996. Flores no copo. Coleção Os vasos de flores I... Ficha técnica: “... Fotografias... 12 de março de 1996... 14h30min. até 16h15min. ...”.

20 de março de 1996. Com as revelações entendo o poder do verde na COZINHA. Flores no copo de garrafa cortada. Coleção Os vasos de flores II. Ficha técnica: “... Fotografias... 20 de março de 1996... 13h30min. até 17h00min. ...”.

10 de abril de 1996. Justaposição de cores, gotas de nanquim. Coleção Os vasos de flores III e IV...  Ficha técnica: “... Vasos... 10 de abril de 1996... 14h30min. até 17h00min. ...”.

18 de abril de 1996. Observei as plantas dentro daqueles vasos e achei que representavam mesmo “toda angústia ali contida” = Es ist hier nichts auf dieser Welt, was ganz mein Sehnen stillt = não há nada aqui neste mundo que sacie inteiramente meus desejos – não sei quem escreveu, nem por que estava lá... um arremesso ao coração trans-verberado de Santa Teresa de Ávila (1515-1582), amiga das imagens em palavras... Hoje, encontrei vasos difíceis de desenhar. Tirei do lugar e não consegui voltar com eles. Coleção Os vasos de flores V e VI. Ficha técnica: “... Vasos... 18 de  abril de 1996... 13h30min. até 17h00min. ...”.

26 de junho de 1996. Trouxe as cabeças de bonecas que estavam guardadas nas prateleiras do armário e no guarda-roupa. Desenhei o trajeto circular de uma cabeça de porcelana, em seqüência no plano da folha, juntando o crânio (do buraco vi as bolas dos olhos castanhos, vidrados, a boca entreaberta). Os olhos e os dentes das bonecas eram colocados/ colados, como uma prótese, por dentro do crânio que era lotado de papel de tipo seda e jornal para que os golpes/ tombos não destruíssem a porcelana ou a lata; depois eram colocados os cabelos humanos. Ao redor do oco, na superfície redonda do rosto, havia manchas de ouro, pintadas para proteger uma cabeça de latão com olhos azuis, testa, nariz, bochecha contra ferrugem. Linha de seda rosa-velho, esmagada entre as páginas de um Notiz Kalender, de 1918; 12 signos do zodíaco, desenhados entre as letras e parágrafos, linha bege seda + fio preto + fio azul-rei + linhas ocre e rosa-velho + fio de linha de seda preta + fio bege + sementes + fio roxo com bege + fio lilás com cobre + fio azul-piscina (desmaiado + azul-anil) que anotei para um estudo de cores. Marcações, palavras-chavecorações, cachos de uva, rosas em fila, navio... Vi o rasgo do papel, como o do baralho. Linhas de cor uva. Carretéis com linhas de seda verde-folha, bege-claro, verde-garrafa, verde-limão, bege-escuro, bege-ouro, pinhão, preta, carretéis de madeira, carretéis de 1838. Madeira, espelho + escuro mesma estampa + claro. Ficha técnica: “... Carcaça de bonecas, calendários, caixas... 26 de junho de 1996... 13h30min. até 17h00min. ...”.

22 de agosto de 1996. Ao chegar dei com um pires cheio d’água sobre uma das pontas do balcão da COZINHA, contendo brotos boiando. Encontrados e retirados dentre as folhas de um repolho grande, cresciam e se fazia uma criação. Na paisagem, além dos repolhinhos verdes, claros, flores vermelhas, um pouco murchas, pareciam brincos-de-noiva. Joguei Resta-um, o quebra-cabeça da pessoa solitária, este era composto por um tabuleiro em madeira clara e por peças de tamanhos irregulares, cilíndricas, pintadas, coloridas, introduzidas como pilares em buracos – ou como um quarteirão de prédios na cidade. Havia outro tabuleiro, em madeira de pinho, dentro de uma caixa e pinos de imbuia, estes menores que uma falange. Folheei revistas em busca de assunto e encontrei uma fábrica de patos de madeira para iludir caçadores. Conversa a respeito de madeiras, o jacarandá escuro-avermelhado, o cedro-leve, o pinheiro mais duro.

28 de agosto de 1996. Os livros antigos a respeito de mobiliário foram encontrados dentro de um armário, no DEPÓSITO. 1° livro da pilha – grande, capa dura com manchas contorcidas em vermelho, preto, cinza e verde. Mesa com patas de cavalo. Flores, placas em porcelana pintada, quadradas, sobre as portas. Armário com palco e cortinas. Placas quadradas e redondas em porcelana. 2° livro da pilha – capa dura com estampa em forma de bolhas em ocre, preto e verde, manchas na estamparia. Desenhos a lápis, pé de mesa, asas, cornijas. Lira no espaldar de cada cadeira. Paisagens/ cenas no espaldar das cadeiras e poltronas. Sofás, poltronas, cadeiras em semicírculo remetem à posição de porta-retratos. Conversadeiras para três pessoas. 3° livro da pilha – Perfis e molduras. Documentos de estilo desde o Gótico ao Império. Lâminas. Motivos. Livro com desenhos, capa dura em tons de verde-água, ocre e marrom, amarrado com uma fita marrom. Dedicatória e apreciação. 4° livro da pilha – desordenada, ‘a cama louca’. Chaminés ou palcos. Calcinhas de trapezistas com bordados de cornetas, violinos, violas? Ficha técnica: “... Livros antigos sobre móveis e marcenaria... 28 de agosto de 1996... 14h45min. até 17h00min. ...”.

30 de agosto de 1996. 5° livro da pilha – folhas desordenadas. Documentos do escultor ornamentista. Galhinhos com flores, com trigos, frutas e uvas na vertical, uso de castanholas. As quatro estações, a primavera, o verão. Crianças com ramos de rosas, crianças com feixes de trigo. Quatro estações, o outono, o inverno. Crianças com uvas e balaios, crianças com o fogo. Mulher segurando um espelho com estrela no peito. 6° livro da pilha – folhas desordenadas. Os quatro elementos, a terra, o ar. Quatro crianças em cada oval, na terra com árvores e frutos, na terra, gaiola aberta e pássaro voando. A paz, três crianças frontais, em festa; atrás outras crianças, árvores. A guerra, três crianças e outras caídas, tochas, lanças, castelo. 7° livro da pilha – capa de papelão castor com letras azul-petróleo, fitas azuis. Lalique. Oval recortado plano, menino com flores e pássaros sobre um fundo de tijolos. 8° livro da pilha – fragmentos de desenhos de móveis com esqueletos internos para corte da madeira ao lado. Atrás das pranchas há desenhos (um pé de mesa com folhas grandes e patas de leão, espelho, por exemplo). Lustre. Dançarina e pierrô. Documentos práticos do ornamento. Anotações sobre as bases do ornamento ou motivos geométricos, vida das formas naturais e artificiais. O ornamento em si. Função e relação entre configuração e aplicação do ornamento em vasos, utensílios, mobiliário, arquitetura, joalheria, heráldica e escritura decorativa, romântica, uncial gótica, arábica, textual gótica, gótica moderna, latina renascentista, iniciais, vinhetas, escrituras e ornatos latinas, construções, cifras e monogramas, instrumental para encadernações. Ficha técnica: “... Livros antigos sobre móveis e marcenaria... 30 de agosto de 1996... 14h30min. até 18h00min. ...”.

04 de setembro de 1996. Voltaram os vasos com flores. Junquilhos amarelos, cedrinho, dentro de um vaso de porcelana em formato de canoa, de cuja base se espalhava um cacto verde e amarelo com flores vermelhas, pintado em direção ao meio e as pontas. Arranjo composto com margaridas brancas e miosótis róseos/ miolos amarelos. Azedinhas de um mais que rosa vermelho/ telha. Amor-perfeito róseo, branco amarelo e branco. Coleção Os vasos de flores VII. No verso, anotações caligrafadas. 9.° livro da pilha – numeração romana fora de ordem. Imagens em sépia. Bergère e cadeira. Números escritos a lápis, na extremidade esquerda. Detalhe de uma porta. Baixo-relevo funerário (as cabeças – sem cabeças, a santa e o menino e o anjo e outra  figura). Atrás da prancha, desenhos a lápis, flores? Simples arabescos. Quem fez? Desenhos. Três palavras escritas, parecem nomes próprios. Máscara, fonte, uma careta! A lápis, atrás: “_ _5_ _ _   _ _2__   __0__”. Atrás, a lápis “_ _ _3__   _ _ _ 3__   __0__”. Atrás “_ _ _3__   __7_ _ _   __0__”. Na frente, um desenho grafite completa o arabesco do meio do console. Bronze dourado. Consoles, apliques, detalhes de dragões e aves. Selva com animais, pássaros, bruxos sobre vassouras, cores. Na prancha, atrás, contas, números. Atrás: “_ _ _ _ 4__   _ _ _5_ _   __0__”. Nome escrito à lápis. Console. Atrás: “_ _ _ _4_   __0__   __0__”. 10° livro da pilha – encadernação grossa de tecido verde-musgo com letras douradas. Fitas nas extremidades, quatro castanhas e duas brancas, amarradas fecham o livro. Textura, relevo grafitado, linho. À fotografia e filmagem de mortos, parece que são feitas para a recordação daqueles que não puderam comparecer na despedida. Ficha técnica: “... Livros antigos Collections Georges Hoentschel, vol. II... Fotos russas (fúnebres)... 04 de setembro de 1996... 14h30min. até 17h30min. ...”.

30 de outubro de 1996. Coleção Os vasos de flores VIII, IX e X. Ficha técnica: “... Vasos de flores... 30 de outubro de 1996... 13h450min. até 15h00min. ...”.

08 de janeiro de 1997. Coleção Caixa dos sentidos I: o tato para um novo Mutus Liber. O livro mudo da alquimia. Caixa de papelão Kraft, dentro duas mãos em papel pergaminho recortado, desenhos com grafite, os sulcos das mãos na parte interna, as unhas feitas com a ponta de um tubo aberto, arrastando a tinta fera Carmesi alizarina. Fita néon dourada dupla em nó unem cada lado da máscara das mãos para que seja usada por outros como uma máscara mesmo. Livro de artista.

21 de fevereiro de 1997. Vaso grande, contorcido azul-petróleo com uma rosa, em frente à cristaleira, no chão; outro sobre a máquina de costura. Este tinha a paisagem castanha de uma floresta, era bojudo. Os caules das flores cor-de-maravilha pareciam continuar ao vivo o que a porcelana aprisionava na pintura da superfície, do marrom ao rosa-choque. Coleção Os vasos de flores XI e XII. Outro esconderijo para um novo desenho da COZINHA. Encontrei carretéis, linhas, espelhinho, papéis, fitas, cordas e livros de receitas embaixo do assento do banco do canto alemão. A maior parte em português, inglês e alemão. Havia receitas em livros fininhos, nesses idiomas. O primeiro que escolhi e peguei  foi o Guia domus, com a data de 25.10.55.  Receitas escritas com diferentes letras em agendas, em folhas soltas, em papelões rasgados, em dobraduras de caixas, embutidos impressos. Livro de capa dura fragmentada na extremidade. Agenda alfabética – retalhos de revistas – folhas de cadernos em listras/ quadriculados, xadrez – desenhos de frutas numa folha de papel manteiga – ramo de flores secas – recortes coloridos, de bolos – de revistas – receitas em inglês escritas a lápis e caneta tinteiro – pétalas de rosas – escritas à lápis e canetas a tinta – papel xadrez azul e branco com o desenhos de frutas na seguinte ordem – melancia, maçã, cereja, pera, limão, laranja, abacaxi, pitanga-verde, caju, pêssego, ananás, figo-verde, banana, carambola, morango. Ficha técnica: “... Livros de coletas de receitas... 21 de fevereiro de 1997... 15h00min. até 17h30min. ...”.

05 de março de 1997. Violetas... – verde musgo/ violeta viva violeta preta (flor seca)/ amarelo/ azul anil/ marrom esverdeado (folha morta)/ cerâmica. Vaso com flores... (talvez tenha sido encontrado junto com os espelhos e a casa de madeira), no papel de seda o registro trouxe a idéia das pedras numeradas de um bingo... Verde musgo, violeta viva violeta preta (flor seca) amarelo azul anil marrom esverdeado (folha morta) cerâmica... Coleção Os vasos de flores XIII e XIV. Desenhei os bancos do canto alemão, abertos, depósitos retangulares deixando à mostra os livros de receitas, agendas, no meio de estampados papéis de embrulho e barbantes. Nada foi ou é jogado fora. Os pedaços de espelhos encontrados na rua foram cortados e montados. Ficha técnica: “... esconderijo dos bancos – fotografias & flores/ Receitas... 05 de março de 1997... 13h00min. até 16h00min. ...”.

11/12 de março de 1997. Coleção Os vasos de flores XV e XVI. 1a gaveta da penteadeira: dois pares de óculos redondos, tesoura, limpa-rápido Camurça e Buffalo (que se espalhou da caixa sobre a folha de seda), livros, etiqueta, pomadas de calendula, iodex, basilicão... Codicilos. 1. Capa preta 1951. 2. Capa vermelha 1958. 3. Capa vermelha 1959. 4. Capa azul-marinho 1963. 5. Capa vermelha 1964. 6. Capa vermelha 1966. 2a gaveta: tomada e fio, saco, fita vermelha e listrada em azul e branco, linha dourada e amarela com carretéis, tecido com paisagem florestal e servo, linhas coloridas, verde-musgo, verde-limão, marrom, laranja, ocre, vermelho, azul, rosa e lilás, roxo, rolo de gaze, guardanapo azul-piscina, 20 rolos para cabelo, chaveiro, escova, fio dental, livro, propaganda, luvas em pelica, lápis, monogramas desenhados à lápis sobre papel vegetal, calcados monogramas, letras e pontos de cruz, sete livros de monogramas. 3a gaveta: porta pente e escova em metal com pêlos brancos, poseira, abotoadura, espelho retangular com proteção em couro, caixa de fósforos, espelho de bolso já descascado, pote de vaselina sólida, oito grampos para ondas em cabelos, sete tartarugas – travessas, linha vermelha, ramo de flores em tecido moldado, ramo, caules, flores e pistilos, folhas. Ficha técnica: “... Codicilos... gavetas da penteadeira... 11/12 de março de 1997... 14h00min. até 17h00min. ...”.

03 de abril de 1997. Coleção Caixa dos sentidos II: o olfato para um novo Mutus Liber. Caixa de papelão Kraft, com tampa interna recortada e retirada a um centímetro das bordas; forma um buraco sobre o qual foi costurado um retângulo (no formato da caixa) em papel vegetal que permite a visão sombreada de um jardim de rosas, em “T”, o qual está dentro e embaixo. Perfume espargido nas rosas vermelhas, rosas e folhas verdes, em papel de seda amassado. Livro de artista.

21 de maio de 1997. Coleção Caixa dos sentidos III: o paladar para um novo Mutus Liber. O livro mudo da alquimia. Caixa de papelão Kraft, fundo pintado com esmalte para unhas rosa forte e sobre este, várias camadas de guache dourado, passada lixa grossa/ enfiados nos dois orifícios extremos da caixa dois palitos orientais sulcados nas pontas e amarrados com fio prata segurando o papel pergaminho recortado em forma da mancha da boca, papel de seda branco e gaze verde-água dentro da caixa de maçãs. Livro de artista.

19 de junho de 1997. Coleção Caixa dos sentidos IV: a audição para um novo Mutus Liber. O livro mudo da alquimia. Caixa de papelão Kraft, pequena, contendo rosa amarela feita de saco plástico tingido, coração em papel pergaminho debruado com barbante e papel crepom azul para rasgar, estrelas no miolo, sacudindo faz barulho; embrulho com papel celofane verde-musgo; caixa fechada com papel crepom e barbante vermelho trespassado em diagonal de fechadura, sem nó, para rasgar, também. Livro de artista.

25 de junho de 1997. Epifanias. Coleção Os vasos de flores XVII e XVIII. Ficha técnica: “... Vasos de flores... 25 de junho de 1997... 13h00min até 15h00min. ...”.

02 de julho de 1997. Coleção Caixa dos sentidos V: o olhar para um novo Mutus Liber. O livro mudo da alquimia. Caixa preta com letras douradas, micro-fórum composto por recortes-colchões de espuma e, no meio deles, cacos de espelhos presos com fios prata. Próxima dos bordos internos, um puxador feito com linhas vermelha&pink presas na agulha que serviu para costurar a carta – convite para uma luta corporal –, em papel de seda vermelha. A agulha espetada no dedo derrama o sangue no papel rasgado. Aproveitamento de caixas de jogos para computador como todas as demais. Livro de artista.

08 de julho de 1997. Leitura oral ao redor da mesa redonda. Escrever dizendo a verdade por trás da flor, sem ofender. Refinamento lingüístico no cotidiano. Xícaras de chá. Ficha técnica: “... Tradução de carta... 08 de julho de 1997... 16h10min até 17h10min. ...”.

13 de agosto de 1997. Da cristaleira foram deslocadas duas caixas de madeira que estavam na Oficina de móveis entalhados. O nanquim se derramou sobre a superfície das folhas dobradas, de cima para baixo, marcando as formas até o desaparecimento das linhas em pontilhados mínimos. As goivas. Folha 1. “Goivos” da caixa pequena contendo cinco peças. Ferramentas de trabalho: 17 peças no total. Vaso de junquilhos (amarelos e castanhos). Folha 2. “Goivos” da caixa pequena contendo cinco peças. Ferramentas de trabalho: 17 peças no total. Vaso de junquilhos sobre a mesa. Folha 3.“Goivos” da caixa pequena contendo seis peças. Ferramentas de trabalho: 17 peças no total. Vaso. Junquilhos sobre a mesa. Folha 4. “Goivo N Stenzel” & caixa pequena com tampa chata contendo uma peça: 17 peças no total. Vasos sobre a mesa. Perfume de junquilhos. Os formões e as goivas. Folha 1. “Formões da malinha” contendo seis peças, cinco numeradas: 2 ½ Avesso, 5 Avesso, 3 (?) Avesso, 5 ½ Avesso + Direito, 8 Avesso + Direito. Ferramentas (curvas). Junquilhos. Folha 2. “Formões estreitos da malinha” contendo 11 peças, sem informações. Ferramentas de trabalho. Junquilhos. Folha ¾. “Goivos da malinha” contendo 22 peças, duas numeradas: 6 e 6 ½. Folha 4. “Formões estreitos da malinha” contendo quatro peças, uma numerada: 8mm.. Ferramentas. 16h10min.. Na casa está frio. O retrato emoldurado que veio da casa da Travessa, estava encostado na cristaleira, na semana passada; agora está sobre o sofá da BIBLIOTECA – o rosto foi recortado e ampliado de uma fotografia de grupo; reproduzida em tonalidade esverdeada. Dentro da gaveta do guarda-roupa embutido no nicho foi encontrada uma fotografia da casa mais antiga no domínio; construção de alvenaria de tijolo de 1897, data inscrita na fachada onde funciona outra oficina de restauração de móveis. Sentei para trabalhar com os braços apoiados sobre a mesa redonda. Perfume forte do vaso de junquilhos amarelos e castanhos. Ficha técnica: “... Ferramentas de trabalho... 13 de agosto de 1997... 14h00min. até 16h10min. ...”.

20 de agosto de 1997. Poemas informais (três trouxinhas com rolos em rápidas prosas – “a flor –  flor em terreno branco a flor em branco amarrotado”/ “as andorinhas” – “a chuva – a chuva cai sobre o lago o lago recebe a chuva”). Papel de seda amarrotado e passado a ferro, carretéis de papelão, retalho de gabardine azul, linha preta para as andorinhas, recorte e encaixe, papel laminado de lata de café, linha prata, restos de lonita bege de antigas telas, barbante cru para o franzido. Livros de artista. Deslocamento e revisão de caixas. Ficha técnica: “... Caixas da Oficina... (fotos, ferramentas, revistas, livros)... 20 de agosto de 1997... 15h00min. até 18h00min. ...”.

25 de agosto de 1997. Ficha técnica: “... remoção dos pertences... 25 de agosto de 1997... 09h30min. até 11h45min. ...”.

27 de agosto de 1997. 1ª Caixa contendo outras, menores, de papelão e latão, destacando-se as marcas Agfa, Eisenberger, Hauff-Leonar, Mimosa etc.; identificadas nas tampas com caligrafia a grafite ou bico de pena. As caixinhas, por sua vez, continham os negativos de vidro correspondentes a algumas das fotografias, em papel, do Álbum de fotografias e das reproduções repetitivas, de diversos tamanhos, em p&b, da primeira metade do século XX, percebendo-se a transformação da realidade por meio da fotografia a partir do século XIX. Sem assinatura, pode-se supor que Nestor, ou qualquer um de seus parentes, ou amigos, tenha fotografado os demais, em ocasiões e lugares diferentes; inclusive que tenham experimentado revelar, além de dispor do trabalho de terceiros. Até onde se pode saber o arquivo fotográfico poderia ser indicado como produto amador. F. H. Leonar 41293T... Papel Lumarto extra duro/ sete chapas fotográficas, pequenas, bem verde-claro/ papel para proteger 1/8/9/10/ chapa fotográfica postal bem verde-claro/ chapas de vidro incolor – tamanho postal/ etiqueta de aparelho Máquina para soldar serras.  – três fases. Caixa sem tampa: três pedras para afiar ferramenta (“goivos” e “formões”)/ cavalinho para peça de madeira – relevo/ dois potes de porcelana para misturar tinta – betume/ lente grossa quebrada/ carretel de madeira/ mais três potes para misturar tinta – amarela, verde e marrom/ compasso/ aparador de pedra para afiar/ um pote com pó de ouro/ molas para máquinas de gramofone, caixa de fósforos contendo pepitas de ouro e algodão/ pote com pó dourado/ plástico estampado/ quadro com fotografias/ pote marrom de plástico... pote marrom ainda dentro do maior na tampa escrito “quem paga” e dentro uma ficha, dois papéis e uma rolha plástica. Desenho a grafite. Folha com desenhos frente/ verso. Frente... assinatura difícil de ser lida apresenta desenho em forma de baú com entalhe. Desenho a grafite/ Atrás tem desenhos a grafite com homem fumando cachimbo, outro perfil, outro perfil de cabeça para baixo, arabescos, busto de homem com pedestal, espelhos, mesas ou buffet. Quadrado em papel com desenho em grafite e lápis de cor vermelho, comprimento, altura para provável mesa. Atrás carimbo. Desenho a lápis, de cômoda ou penteadeira com três folhas de espelho e seis gavetas com entalhes, feito atrás de calendário de março de 1948. Desenho de cristaleira. Desenho de cadeira, quase poltrona e forro de flores a lápis de cor com rosas e folhas verdes/ mais mesinha com entalhe e forro igualmente estampado. Folha Kraft com dois furos e aranha marrom morta, colada. Atrás, números e contas a lápis. Desenho de balcão com duas portas quadradas laterais, duas gavetas grandes e duas pequeninas/ entalhes nas portas e nos pés. Molde de parte do espaldar (estamparia de estofado) de cadeira/ poltrona com braços de madeira. No espaldar o desenho da cadeira inteira com os entalhes e as estampas em grafite. Rasgos nas laterais. Desenho de banqueta com relevos nas pernas e no estofado. Grafite em papel Kraft – tipo papel de embrulho. Desenho de três armários acoplados, um grande no meio e dois menores, iguais nas laterais. No verso, riscos mais claros do mesmo armário. Desenho com anotações de números e medidas com arabescos de flores/ cadeira com braços e pernas entalhados. Desenho de arabesco com grafite. Desenho de sofá com almofadões e pé em relevo/ grafite. Desenho a nanquim: cômoda com quatro gavetas e pegadores – relevos... escritos com esferográfica. Desenho de rosas com entalhes de pés de armário folha pautada. Desenho a grafite sobre papel vegetal, cômoda, pernas e relevos. Desenho de cômoda, armário, toucador e mesa de cabeceira esferográfica sobre papel. Desenho a grafite/ de armário com folha de espelho – papel Kraft. Desenho de cômoda em grafite. Manuscrito em nanquim sépia. Desenho de relógio com pêndulos, grafite sobre papel branco. Desenho de cômoda, grafite sobre papel Kraft. Desenho de armário (duas portas quadradas tipo gavetas, em cima) (duas portas pequenas laterais embaixo) (tela no meio embaixo)... Desenho de quarto: cama de casal, mesa de cabeceira, guarda-roupa, espelho, cômoda com quatro gavetas, cadeira, escritos a lápis – grafite sobre papel/ no verso, escrito a lápis... guarda roupa, duas camas, cômoda, mesinha de cabeceira, cadeira, quadro espelho = sete peças... cadeira, mocho, penteadeira, aumento quadro espelho. Desenho de cadeira com forro estampado. Desenho a grafite sobre papel. Pequena mesa – grafite sobre papel. Desenho de espaldar de cama – grafite e esferográfica – verso – arabescos c/grafite e esferográfica. Desenho com grafite e esferográfica sobre vegetal. Desenho/ folha de papel e grafite (armário, mesa e cadeira e poltrona com relevos) números a lápis. Caderno de desenho Raphael. Folhas de revista. Berlin 1926/27. Desenhos de móveis. Estampa de vaso com flores/ vermelho, verde, amarelo, azul-claro/ atrás contas em grafite e esferográfica azul e vermelha. Desenho de armário a esferográfica. Estampa gótica, velho com ramo no chapéu. Estampa Liebe und Arbeit. Estampa de homens. Estampa de mulher com criança/ atrás números a lápis. Desenho de flores sobre papel poroso verde – grafite. Desenho de leão sobre papel poroso bege – grafite e furos, atrás desenhos a grafite de cabeça de grego e telhado de casa. Recorte de animal no meio de plantas em papel poroso bege. Desenho de cadeira/ grafite sobre papel poroso, atrás desenho em grafite. Desenho de mapa em nanquim – lápis de cor vermelho, verde, lilás, amarelo e azul. Atrás desenho de espelho em escala. Desenho de cômoda/ arabescos/ atrás, desenhos de arabescos. Recorte de flores e folhas. Desenho de armário com arabescos – grafite. Desenho de arabescos. Folhas de revistas com lustres e abajures. Desenho de floral sobre papel de embrulho verde oliva. Desenho de carrinho de bebidas, desenhos de flores/ no verso, papel pautado com móveis/ com medidas – grafite. Desenho de queijeira com duas portas laterais e quatro gavetas embaixo/ divisórias no meio das duas vitrines laterais superiores/ embaixo, o vão onde a galinha chocava a cena do ovo e por sobre outra pequena prateleira com portas. Atrás, contas em grafite – a letra... gótica. Desenho de mapa – nanquim e lápis de cor (amarelo, laranja, vermelho, azul, amarelo, roxo, verde). Caderno de desenho, propriamente dito. 1ª folha: desenho a grafite, reprodução de estampa gótica, velho com ramo no chapéu. Atrás, grafite de cadeira. 2ª folha: seda. 3ª folha: grafite de toucador. 4ª folha: seda. 5ª folha: imagem de armário apagada com borracha, escavação de rosto. Atrás, rosto de menina, arabesco e concha. 6ª folha: grafite de folha de parreira. 7ª folha: seda. 8ª folha: rosto de mulher – grafite. 9ª folha: rosto de mulher e criança em oval. Ficha técnica: “... Desenhos de móveis... 1ª  Caixa – Oficina... Desmanche – ... 27 de agosto de 1997... 13h30min. até 17h30min. ...”.

30 de agosto de 1997. Pasta arquivo de correspondência. Letra N. Página 1: 09h55min.. Letra O = três cartas, 1952. Letra P = carta, 1953. Letra Q = nada. Letra R = 12 cartas, 8/1950 –  2/1951. Duas cartas, 1942. Telegrama, 1949. Letra S = carta, 1955. Telegrama, data ilegível. Carta, 1951. Telegrama, data ilegível. Envelope 1950, em vegetal transparente e letra sépia e nanquim acinzentado, selos, carimbos. Cartas 1946, 1946, 1947, 1947, em alemão, tinta azul. Carta 1950, em alemão, tinta sépia. Procuração para venda de terreno. Página 2: 12h00min.. 1950, tinta azul, papel pautado em alemão/ carta. 1949, tinteiro azul e preto, papel pautado, em alemão/ carta. 1949, tinteiro azul, papel pautado, em alemão/ carta. 1949, tinteiro azul/ preto, papel pautado, em alemão, carta. 1949, em alemão, tinteiro azul/ preto/ cinza/ carta em papel pautado. 1949, tinteiro preto, em alemão, papel pautado. 1949, carta tinteiro azul petróleo, papel pautado. 1948, tinteiro azul petróleo, papel sem pauta cenourinha. Página 3: 12h15min.. 1948, tinteiro azul petróleo, papel sem pauta cenourinha. 1948, papel pautado, tinteiro azul petróleo. 1948, carta em papel pautado, tinteiro azul petróleo. 1947, cartão em papel linho. 1948, carta em papel pautado, tinteiro azul petróleo. 1948, carta em papel sem pauta, cor cenourinha. 1947, carta em papel pautado, tinta azul petróleo. 1948, papel pautado, tinteiro azul. Página 4: 12h25min.. 1948. 1947. 1947. 1947, tinteiro azul escuro, papel pautado. 1946, tinteiro azul petróleo, carta pautada/ seis páginas escritas atravessadas também. 1946, cartão em papel linho/ frente-verso ao comprido, três, quatro e cinco  palavras por linha. 1947, duas páginas em papel pautado, azul petróleo. 949, cartão com estampa... em alemão, tinta preta. 13h35min.. 1951, nome ilegível, carta pautada, tinteiro azul petróleo um pouco apagado. Página 5. Letra T = Carta 1948, em alemão, timbre vermelho, fita datilográfica azul, assinatura em nanquim azul. Carta 948, folha de caderno dupla, pautada, letra preta nanquim. 49, carta em papel pautado, tinteiro nanquim preto. Carta 48, papel de seda pautado, letra preta – nanquim. Carta 1948, papel pautado, letra nanquim. Carta 48, papel pautado, letra nanquim. Carta 48. Carta 48, o tigre em pauta. Carta 48, nanquim sobre papel pautado. Carta 48 (tigrinho em bronze), papel de seda, nanquim azul quase preto. Carta 1948, “... toque...” (“toque” é ponto?). Página 6: 14h05min.. Letra T. Carta 1948, carta em papel pautado de caderno/ duplo – folha de meio, tinteiro preto. Carta 48, “... toque...”. Carta 45, anotações na margem superior, 1946 “... Toque...”, carta em papel linho fino, tinta preta azulada. Carta 1945. Carta 45, papel pautado fino – letra nanquim. Carta 45, papel sem pauta, na frente/ inverso pautado atrás. Carta 45, papel Kraft sem pauta, tinta preta azulada. Página 7: 14h30min.. Carta 1943 (?). Carta 1942, carta em papel sem pauta/ Kraft suave c/ nanquim, pauta leve atrás. Carta 1942, margem direita inferior. Carta 42, sépia sobre liso Kraft – pauta atrás. “... toque...”, papel pautado, tinta cinzenta, sépia. Carta 1942. Nota 1942 “... Toque...”. Carta 1942. Carta 1942. Carta 1941, papel linho, tinta nanquim. Página 8: 14h56min.. Carta 1942 – (quase ilegível) “... toque...”,  papel linho fino e pautado, tinteiro nanquim. Carta 1941 (quase ilegível), papel linho fino pautado nanquim “... Toque.”. Carta 1941, papel linho fino e pautado/ nanquim. Carta sem data. Carta 1941, sépia quase preto em preto em papel caderno – de meia folha dupla pauta no meio/ verso aparente “... Toque...”. Telegrama... Carta 1940, tinta sépia quase preta, papel caderno pautado “... ovos crus e vinho estrangeiro...”. Página 9: 15h10min.. Carta 1940, a tinta sépia preta, atrás – as marcas ficam mais sépia sem xadrez de folha de caderno pautado “... – Toque.”. Carta 1940 (data quase ilegível). Carta 1940. Recibo. Grupo de cartas coladas em papel timbrado rosado, linho fino e suave. Carta 1939. Carta 1939, caneta sépia quase preta. Página 10: 15h40min.. Carta 1939. Carta 1935, nanquim cinzento – papel pautado de caderno pequeno/ médio. Carta 1939, papel rosa pautado – folhas cortadas, tinta um pouco sépia. Carta 1939. Bilhete escrito a lápis em papel manteiga 1939. Carta 1939, tinteiro preto, em papel linho fino pautado. Letra U = nada. Letra V = Carta 45. Página 11: 16h05min.. Carta, papel bege sem pauta/ tinteiro sépia, sem data. Anotações, 1940/1941. Carta (sem data), papel bege sem pauta/ tinteiro azul/ sem data. Carta, sem data/ papel bege e letra preta. Carta. Resposta em papel rasgado, folha de caderno escrita à sépia ao contrário da pauta – ao cruzado da linha. Carta, s/data, papel bege e tinteiro sépia. À direita superior carta 1940. Carta 1940, esquerda inferior.  Página 12: 16h25min.. Letra W = Carta 1941, tinta impressa preta e azul datilografada, assinatura em grafite. Carta 1941 (nanquim azulado). Outra carta 1941, datilografia em preto, lápis de cor roxo, tinteiro azul petróleo. Ficha técnica: “... Material epistolar deslocado do sótão da casa da Travessa Gen. Francisco de Lima e Silva, 65... 30 de  agosto de 1997... 09h00min. até 18h00min. ...”.

02 de setembro de 1997. 13h25min.. Letra Z. Cinco telegramas explicativos. Carta 1952, papel de seda timbrado com linhas, tinteiro azul-petróleo. 1952, carta confidencial, em tinta vermelha. Carta 1952, margem a lápis, tinteiro azul-petróleo. Carta 1951. Carta 1951, papel ofício timbrado com linhas, tinta quase forte. Carta 1951, folha de ofício dobrada sem pauta, tinteiro quase preto. 14h10min.. Letra X = nada. Letra Y = nada. Letra Z. Carta 1954, papel Kraft claro, liso – tinteiro quase preto, sem pauta. Carta 1952 (folha pautada, tinteiro azul-petróleo), folha grande de caderno de conta corrente. Carta/ duplicata 1952 (folha dobrada/ aerograma). Carta em papel ofício timbrado/ duplo 1952/ tinteiro azul-petróleo. Carta declaração 1952, papel ofício timbrado, tinteiro azul-petróleo. Carta 1952. Carta em tinteiro azul-petróleo, papel ofício timbrado, escrito em dois lados. Carta em quatro páginas, papel ofício duplo timbrado, 1952. Separações de palavras = ati-tude, impe-dimentos, por con-seguinte... pontuação incrível – dois pontos em início de linha/ frase. 16h15min.. 1950, carta dupla papel ofício pautado, tinteiro azul-petróleo. Carta 1950, tinteiro preto, folhas pautadas. Carta 1950, folha pautada, tinteiro azul-petróleo. 16h25min.. Ficha técnica: “... Material epistolar deslocado do sótão da casa da Travessa Gen. Francisco de Lima e Silva, 65... 02 de setembro de 1997... 13h30min. até 16h45min. ...”.

03 de setembro de 1997. O retrato está na parede da BIBLIOTECA. Cadernos: 1. Encapado em papel Kraft, roxo, desbotado, linhas, pauta musical, sem escrita. 2. V. numerado assim. Parece gótico e é gótico, totalmente escrito com caligrafia de pena de nanquim, capa roxa e linhas graúdas. 3. Letra em nanquim desbotado, à esquerda, infantil. Letra em nanquim firme, à direita, gótico adulto. 4. Colocação de palavras/ lista corrigida: açúcar, cana, teatro, homem, fumaça, osso, vassoura, hora, orvalho, cães, habitar, habitante, morcego, chácara, chalé, chuva, chefe, diretor, alumínio, querosene, macaco, machado, coma, couve, pêssego, caroço, pêssego, maçã. 15h40min.. Cartas, caixa com tickets, estampa de cegonhas, fotografia, recortes de jornal, livros góticos ilustrados com gravuras. Caderno de capa dura/ preta, escrito a lápis, listas de produtos e preços, números em nanquim, frisos a lápis, escrita em gótico, nanquim azul-claro e azul-petróleo quase preto... emprestado xx, gxxx, alxx, gxx, axxxx, letra a lápis leve, exclamação, interrogação, folhas costuradas a máquina, caderno de roxo-azulado, escrita gótica, nanquim e lápis, caderneta em espiral, pequena. Ficha técnica: “... Material epistolar deslocado do sótão da casa da Travessa Gen. Francisco de Lima e Silva, 65... 02 de setembro de 1997... 13h50min. até 16h30min. ...”.

10 de setembro de 1997. 14h30min.. Pequeno lote: mata-borrões rosados. Folhas pautadas arrancadas/ dó ré mi fá sol lá si/ Olimpo de música/ caderno escolar capa verde folhas quadriculadas – contas à caneta preta e tinteiro azul forte, lápis de cor vermelho para os acertos, números romanos – resto vazio/ caderno... pautado e vazio/ caderno madeira...  pautado vazio... músicas da pátria – letra à lápis, pautado, metade limpa... “à limpo” – pautado com duas linhas escritas à lápis “... O duplo ponto aumenta a nota ou a pausa à direita da qual estiver colocado, a metade do valor do 1° ponto...”. As demais folhas em branco/ caderno de música – 1ª lição – música, som, determinado ou musical indeterminado ou não musical ou ainda propriamente ruído – pauta, pentagrama/ metade do caderno de música de capa castor – vazio/ apostilas de merceologia, catálogo de discos novos (1926)/ Homocord/ livro em gótico 1925/ patos saindo de um jardim de rosas, rosas saindo das artérias do coração com passarinho pousado, mãos enroscadas com espinhos nos braços, coração com as rosas ao vento feito pelo bater de asas, vôo dos pássaros, dois, árvore saindo do solo, espartilho rachado com flores saindo de dentro, rato enrolado na cauda, nuvem de estrelas saindo da taça, cobras saindo dos raios do sol, mão saindo de nuvem com raios saindo da mão, espinhos saindo do fundo detrás da máscara, caule com espinhos e rosas saindo das palmas das mãos, duas mãos apertadas como cobras em oito/ livro de 1916... dentro deste recorte, recorte de jornal/ pássaro recortado. 15h05min.. Continuação: livreto de máquinas, aranhas secas em profusão/ negociações enxadrísticas – caráter científico do xadrez – não perturbar o adversário, não deixar de tocar uma peça tocada (nem em partidas improvisadas), sem levantar os olhos do tabuleiro – levantar sem exaltação ao antever a vitória, efeitos cumulativos, ataque direto ao rei mais importante elemento para o conhecimento de xadrez, burilar e lapidar as aberturas (umbral), testes de ataque e combinação. Caderneta preta, palavras em português correspondentes a uma língua estranha – “... não me perturbe os círculos...”... quadriculado – às vezes, uma vez, falou, qualquer, diferença, nada mais, em conduzir, um pouco, controladores, combatentes, alvo, intenção, prever, de novo, alguém, forte, ver, coberto, velado, flexa, quando de novo antes... vazios e 120, 121, 122, 123 até 148 corridos em vazio. Caderneta azul e amarela, apontamentos: mulher, volto, nobreza, Deus, Zeus, árvore, não quero, imposto, dar... trabalho, trabalhadores, lavra, quero, milagre, admiração, eu admiro a Senhora, admiro suas obras, XX = presenteio, comprimento, o anjo da morte, granizo, deusa, dança, dançarino, classe primária, educadora, todo autêntico exemplar tem assinatura da autora; ser, uma, pequena, mas, muito, bela/ dobrada de folha: atinge o céu azul, no centro o sol brilhante, embaixo brilha – riscos/ 16h10min.. – dobrada de folha: inteligentes, laboriosos, desde o tempo, os homens, grande amor, a nós, nós, nosso, viviam, habitavam/ dobrada de folha: de pedra e entravam dentro delas, soberania, parentesco, na margem, nas ilhas, povoando, povoados com, pertence, preparavam, elaboração, bronze, outros metais, vaso, casa, navio, navios, força, poder, dominavam/ dobrada de folha: lá, ai, maior, rei, reis, guerreou, deslocou/ dobrada de folha: dominou, pois, em toda parte, em todo o antes, esquadra, principiaram, a margem, litoral, desde então, ser, fizeram, erigiram, atingiu/ dobrada de folha: descender, daquela época os, terminologia, corresponder, influência, em seguida, último/ dobrada de folha: desceram, com ímpeto, élan, expulsaram, de ferro, lança, armar, roubaram tesouros/ dobrada e dobrada de folha pautada: retardação/ outra dobrada: invasão, tornam-se, motivo, por muitos anos, separadamente, as diferenças, diferente, a língua, mas, entretanto, a mesma, própria, mesmo, também, religião/ 16h25min.. – dobrada de olhar: deusa, eram doze, alto, mais alto, montanha/ dobrada: por quanto, contanto que, brilhar, relampeja e tombavam os raios (raio) para assim punir, acalmar, aplacar, sacrifício, erigir, construir. Ficha técnica: “... Cadernos... 10 de setembro de 1997... 13h45min. até 17h00min. ...”.

17 de setembro de 1997. Tradução e leitura oral de cartas escritas em alemão. Palavras compostas. Ficha técnica: “... Carta... 17 de setembro de 1997... 13h30min. até 17h00min. ...”.

24 de setembro de 1997. Página 1: 14h20min.. Letra A. Quatro cartas, letras ilegíveis/ sem nome. Letra B. Carta, recibos... Busto retrato 69. Figura “Nu” 69. Cabeça mulher 69. Busto 68. Busto retrato 63. Cabeça retrato 60. Carta 1957, remessa do busto. Carta 1956. Carta 1952. Carta 1950, bronze fundido a cera perdida... fundição a terra... Carta 51, papel de seda, tinta azul-petróleo. Letra C. Carta 1957. Carta 1951. Página 2: 15h31min.. Carta... “minhoquinhas” – cartas de amor... Carta 54, letra preta/ folha de ofício sem pauta. Ficha técnica: “... Caixa Cica... outras cartas... 24 de setembro de 1997... 14h00min. até... 16h00min.”.

08 de outubro de 1997. 13h50min.. (continuação). Carta 54, letra azul-petróleo/ papel tipo seda. Carta 54, letra preta/ folha de papel tipo seda. Carta 54, tinta azul-petróleo/ folha fosca. Carta 54, tinta azul-petróleo/ folha fosca. Carta 54, tinta preta-azulada/ folha fosca. Carta 54, tinta azul-petróleo sobre papel fosco. 14h10min.. Carta 54, tinta azul-petróleo/ papel fosco. Carta 54, tinta azul-escura/ papel fosco. Carta 54, azul quase preto/ papel fosco. Carta 54, tinta azul quase preta voltando para o azul mais azul. Carta 53, tinta azul-petróleo clareando para o fim/ papel fosco. Carta 54, azul-petróleo em fosco. Carta 1954, datilografia azul-anil/ letras em nanquim preto para tinta carimbo roxo e nanquim preto leve – lápis grafite. Carta 1954, tinta azul-petróleo – folha fosca sem pauta. Carta 53... Carta 53, tinta preta e papel ofício fosco. Carta 1953... Carta 53, tinta nanquim, folha fosca. 15h50min.. Carta 53, meia folha de papel/ manteiga/ pautado com tinta nanquim irregular. Carta 53, meia folha pautada/ nanquim azul. Carta 53, letra azul-petróleo sobre papel manteiga/ pautas. Carta 53, letra preta, azul e preta, desparelhas/ folha dobrada pautada. Carta 53. Carta 53, carta em papel de ofício grosso, as extremidades roídas pelo cupim, tinta nanquim azul. Carta 51. 15h25min.. Continua chovendo. Carta 55. Carta 55, preto sépia em folha sem pauta manteiga. Carta 1955. Carta 55. Carta 55. Carta 55. Carta 55... Carta 54. 15h50min..  

29 de outubro de 1997. Página 1. 14h16min.. Letra D. Carta 1949, datilografia em preto com nanquim azul-petróleo. 1949, carta datilografada em fita preta com nanquim azul-petróleo. Carta 1949. 1949, carta datilografada com nanquim azul-petróleo. Carta 1949, datilografada em preto com nanquim azul-petróleo. 1949, carta datilografada em preto, nanquim azul, e impresso em azul, papel seda. 1949, carta datilografada em lilás, nanquim preto, marca de fábrica. 1948, carta datilografada em lilás, nanquim preto, marca de fábrica azul. 1948, carta datilografada em lilás, nanquim preto. 1948, carta datilografada em lilás-claro, tinta nanquim azul-petróleo quase preta. 1948, carta datilografada em lilás-claro, tinta nanquim petróleo quase, quase preta. Página 2. 15h00min.. 1948, carta datilografada em lilás-claro. Assinatura em preto quase apagado, azul no timbre. 1948, carta datilografada em lilás-claro. Assinatura em azul-petróleo. Carta 1948, em lilás datilografada. Assinatura em azul-claro, timbre preto. Carta 1948, em cima à direita, anotação. Resposta 1948. Carta 1948, lilás datilografado, assinatura azul. Carta 1948, idem. Carta 1948. Carta 1948, idem. Carta 1947, datilografia em preto quase cinza, nanquim preto. Carta 1947, preto com preto (prepara-se uma tormenta, escureceu, pontos de luz entre as nuvens). Carta 1947, preto com preto. Carta 1947. Carta 1947. Página 3. 15h35min.. Carta 1947. 1947, fatura com timbre preto, datilografia lilás vivo e assinatura azul-calipso. Carta 1947, preta com azul. Carta 1947, azul timbrado, datilografia em preto e assinatura azul-escura. Carta 1947, preto preto e nanquim preto. Carta 1947, (à esquerda inferior anotação). Resposta 1947. Carta 947, idem. Carta 1947, preto com preto e assinatura cinza-azulada. Carta 1947, preto com preto com preto. Carta 1947, uma datilografia azul-clara quase lilás e nanquim azul-petróleo. Carta 1947, azul + escuro, nanquim preto. Resposta 1947. 16h10min.. Ficha técnica: “... Cartas...  Caixa Cica... continuação de 08 de outubro... 29 de outubro de 1997... 13h10min. até 16h30min. ...”.

05 de novembro de 1997. 14h05min.. Letra D. Carta 1947, a última, a referida, datilografia preta, tinta nanquim azul e preta. Resposta 1947. Carta 1947, datilografia preta e nanquim preto. Resposta 1948. Carta 1947, datilografia preta, tinta timbre azul, nanquim preto. Carta 1947, à esquerda inferior, resposta em tinta azul-nanquim. Resposta 1947. Carta 1947, preto sobre preto e preto-nanquim. Carta 1947, azul, timbre azul, datilografia em papel seda azul, assinatura em nanquim. Carta 1947, datilografia preta, tinta nanquim azul, papel grosso timbre. Carta 1947, datilografia preta, tinta nanquim azul. Carta 47, tinta preta datilografia, nanquim preto, timbre preto. Resposta 1947. 14h30min.. Carta 1947. Carta 1946. Carta 1947, papel timbrado, datilografia preta e assinatura em nanquim-azul. Resposta 1947. 1946, carta escrita a mão em tinta azul sobre papel grosso timbrado. Carta 1946. Carta 1946, letra nanquim-azul, datilografia preta. Resposta 1946. Carta 1946, preto com preto com preto. Resposta 1946. 15h10min.. Carta 1946. Carta 1946 datilografada em azul-calipso. Resposta 1946. Carta 1946, datilografia preta. Resposta 1946. Carta 1946, manuscrita em tinta azul, papel ofício. Resposta 1946. 1946, carta manuscrita em nanquim sobre folha de ofício. 1946, carta em folha de ofício, nanquim preto. Carta 1946. 15h30min.. Carta 1946, em papel ofício e tinta zul-calipso datilografada. Resposta 1946, em tinta azul-nanquim. Carta 1945, tinta azul-calipso datilografada em folha de ofício. Carta 1945, tinta azul-calipso datilografada em folha de ofício. Resposta 1945. Telegrama 43. Letra E. Letra F. Ficha técnica: “...Cartas... continuação de 29 de outubro... 05 de novembro de 1997... 13h45min. até 17h00min. ...”.

12 de novembro de 1997. Mina de ouro. Bombas d’água e os pulmões endurecidos do mineiro. Ficha técnica: “... Desenhos... 12 de novembro de 1997... 14h00min. até 15h30min. ...”.

24 de fevereiro de 1998. 15h00min.. Caixa vermelha de papelão encontrada dentro de uma mala dentro do armário do QUARTO, no SÓTÃO... Documentos. Capa preta mofada, de plástico. Caderneta, capa cinza de plástico com manchas escritas em caneta esferográfica (como se a escrita fosse feita de trás para diante). Sim, ocorre que passou de trás para diante. Números, desenhos, escritos no idioma dos estudos. Caricaturas, bustos, lista... Escritos, de trás para diante, pode-se ler na outra página. Desenho em caneta esferográfica contendo homem nu lendo – mulher nua, escutando. Desenho de rosto, máscara de perfil. Desenho de uma cabeça. Estudo da anatomia artística. Dissecação. Membro superior, ossos do carpo. Visão perspectiva ocular. Desarticulação, saco de batatas, imitação. Figura de homem com óculos escuros. Ossos do corpo; forma, movimentos, articulações. Análise das figuras de gesso. Ponto de vista anatômico. Observação da anatomia na pintura. Ossos da mão. Proporções e articulações (figura de perfil). Desenho do esqueleto da mão de frente. Palavras sobre proporções, diversos cânones. 15h40min.. Escrita ao contrário para ler pelo avesso. Desenho em esferográfica de homem com a mão sobre a mesa e a outra mão apontada para o rosto. Bastões, desenho em esferográfica. Perfil curto, pequena máscara com olho, sobrancelha, nariz e pedaço da boca. Grego, sete horas. Montagem de quadros. Círculo sobre um segundo retângulo pequeno dentro de um retângulo grande... à direita. Retângulo grande dentro de um retângulo menor e um busto na direita superior. Quadrado tendo dentro retângulos em forma de “L” e no vão um busto. Desenhos em esferográfica. Pedra quebrada ao acaso. Mármore em forma de ameba com busto e dizeres. Folhas em branco. Listas. Desenhos dos externos. 16h20min.. Mapa com exercícios. Cartas... Mapa com a incorporação. Ficha técnica: “... Cartas... 24 de fevereiro de 1998... 13h30min. até 18h00min. ...”.

04 de março de 1998. As flores roxas da planta, parte delas caiu depois que movimentei o vaso e, pareciam relevos a fazer parte da toalha bordada. Coleção Os vasos de flores XIV... Ficha técnica: “... Cartas da mala... documentos... 04 de março de 1998... 13h30min. até... 16h00min. ...”.

25 de março de 1998. 14h25min.. Caixa Omo: conjunto de papéis. Cartão postal, flores em relevo tudo branco e disco preto com as raias. Papel pardo com desenhos de peças de xadrez, cavalo, torre/ do lado inverso há desenhos feitos também a lápis, grafite, são móveis. Recortes de medalhões – um com flores/ outro com infante, escritos no verso e sinal da cruz. Cartão colorido com pássaro carregando rosa e cartão. Estampa de casa e xadrez, feito a lápis, por cima. Folha de caligrafia, a roda, o carneiro, letras e o pássaro. Jóias de luz, abajur com flores, com paisagem, com desenhos modernistas. Recortes de figuras humanas desenhadas: homem com cachorro/ no verso só a silhueta; homem com porco e bode/ no verso desenhado, também; casal de velhos conversando e lápis. Conjunto de recortes. Croquis de móveis/ plantas baixas e laterais. Peças e moldes para trabalhos em serrinha. Desenhos de cantoneiras para recorte. 12 retalhos e relógio. Carrossel. 22 retalhos e quatro cavalos. 15h05min. Peças, mesas, sofá, desenhos na parte de trás. Jóias de luz/ estilo modernista, 6 com luz-redonda e 13 com efeito de luz refletida. Desenhos feitos com grafite, frente e verso em papel pardo grosso um pouco encerado. Desenhos para recortar feitos em grafite sobre papel pardo e fino, frente. Modelos de vitrolas. Desenhos para recorte e entalhe feitos com lápis. Escudo. Ficha técnica: “... Caixa Omo/ Minerva/ Campeiro... 25 de março de 1998... 14h00min. até 15h35min. ...”.

08 de abril de 1998. Conjunto de recortes para entalhe com serrinha tico-tico. Dobraduras em oitos/ imagens em marrom, imagens em cor castor. Mobiliário, sofás, cadeiras, relógio, mesa, carrossel. Livro: interiores, imagens de passeio e comício, bustos, leques, louças, canecos (papagaio com tampa-cabeça), porcelanas. Figuras em atividade/ viajante, vendedor, mulher dando alimento para um cão, menino dando alface para coelho, mulher com flores, homem bebendo, homem tocando, bailarina. Caixa de porcelana, paisagens pintadas, pessoas em atividade (escrevendo), peixe-caixa, caixa com notas musicais. Tapeçaria (homem domando um leão). Porta hóstias. Passos de  dança – coreografia em dupla e três, solitária... Caixa de fotografias. Dança dentro da natureza, no mar, no campo. Revistas de móveis. Livro conta corrente. Recortes. Gravuras. Documentos. Ficha técnica: “... Caixa Omo/ Minerva/ Campeiro... 08 de abril de 1998... 14h00min. até 16h00min. ...”.

27 de maio de 1998. Gravura: galho e estudo de plantas, em sépia. Gravura de flores, em cores. Gravura de planta, em sépia-escuro, Senna f. Arco do cego. Gravura de planta, em sépia-escuro, Senna f. Arco do cego. Gravura em sépia-escuro, Arco do cego. Gravura em verde, Arco do cego. Gravura em sépia, Falco, Arco do cego. Gravura em sépia, Strix, ave noturna. Gravura em sépia-preto, Antilope. Desenho com rostos. Gravura. Água-forte original/ 1946. Gravura em sépia e verde. Ex libris, 6ª prova. Conjunto de cinco fotografias. Clube de xadrez. Envelope. Conjunto de folhas esparsas. 39. Mapa. 3° livro de leitura. 1° livro de leitura. Estudos gregos conjunto de seis folhas esparsas. Ficha técnica: “... Listagem...  27 de maio de 1998... 14h00min. até 17h00min. ...”.

19 de agosto de 1998. Descontinuidade entre resposta e contra-resposta: adivinhação nas entrelinhas. Probabilidades de invasão no erro. Ficha técnica: “... Cartas – leitura...  19 de agosto de 1998... 13h00min. até 16h00min. ...”.

29 de agosto de 1998. Objetos dispersos numa caixa de sapato: carretéis, braços e pernas de madeira sapatos de couro. Representação de micro-holocausto... Penumbra ambiental. Ficha técnica: “... Tripa de mico... vaso de flores...  29 de agosto de 1998... 14h00min. até 18h00min. ...”.

16 de setembro de 1998. Chapéus, flores secas e coelhos. Ramo de flores, Berlin, contracapa, brinco-de-noiva. Ficha técnica: “... coelhos crus, livros, cartas...  16 de setembro de 1998... 14h30min. até 17h00min. ...”.

30 de outubro de 1998. Coleção Os vasos de flores XV  e XVI. Visita sem Ficha técnica.

04 de novembro de 1998. Decoração e armamentos, papel, destino das chapas de cobre. Ficha técnica: “... L’Acquaforte... 04 de novembro de 1998... 14h10min. até 16h15min. ...”.

18 de novembro de 1998. Ficha técnica: “... Fotografias (novo lote num armário na parte superior do DEPÓSITO...) cartas... 18 de novembro de 1998... 14h35min. até 17h00min. ...”.

25 de novembro de 1998. Ficha técnica: “... Documentos... Caixa de fotografias, cartas, jogos infantis/ puzzle (mapa)... 25 de novembro de 1998... 14h05min. até 16h00min. ...”.

03 de dezembro de 1998. Construção de cabides, compostos com ganchos, para calça e paletó, em madeira de imbuia forrada com feltro + de 50 anos. Ficha técnica: “... Cabides... artesanais... 03 de dezembro de 1998... 14h45min. até 16h00min. ...”.

03 de fevereiro de 1999. Coleção Os vasos de flores XVI. Ficha técnica: “... vasos de flores... Cartas... 03 de fevereiro de 1998... 15h30min. até...”.

12 de maio de 1999. 13h45min.. Caderneta 1935, capa de couro vermelho com filamentos dourados, calendário... Carta 1954, quatro folhas, tinteiro marinho sobre bloco bege, (envelope...) (frente e verso). Envelope 1954. Carta 1949, sépia e tinteiro azul sobre vegetal, quatro folhas. Carta 1949, sépia sobre vegetal, duas folhas. Carta sépia sobre vegetal, 1948. Carta tinteiro azul-marinho, 1952, duas folhas. Carta 1949, folha pautada, papel linho, tinteiro azul. Carta 1940, papel linho, manchas de tinta verde nos bordos, tinta sépia. Carta 1949, duas folhas de linho pautadas, tinteiro azul (frente e verso). Carta 1949, tinteiro azul-marinho para papel vegetal, duas folhas, frente. Bilhete ou trecho de carta cortada, mesmo papel. Carta. Carta 1929, papel linho roxo pautado escrito frente e verso com nanquim preto, escrito na horizontal. Carta escrita a lápis, papel pautado de bloco, folha normal dobradura como bilhete. Fotografia. Bilhete a lápis em papel manteiga, a mesma letra. Bilhete, folha de caderno pautado e recortado – mesma letra. 14h25min.. Carta 1929, a pontuação é um hábito. Quadrado papel linho bege com tinta sépia. Carta de pauta bem estreita, cinza com tinta nanquim preta, caligrafia difícil, lembrando exercícios de estenografia. Página de caderno pautado, nanquim preto quase cinza além do título, dezesseis linhas escritas. Folha dupla de nanquim sobre: primeira folha – três versos, cinco linhas, quatro linhas, cinco linhas escritas; segunda folha – dois versos, cinco linhas, cinco linhas escritas. Carta envelope... mesma folha de pauta estreita e cinza com nanquim. Carta 1932, pauta/ papel linho azul-roxo, tinta sépia, folha de bloco normal, duas folhas. Cartão em papel linho. Fotografia 1932-1933, criança p&b. Fotografia, chapéu (boina e militares), p&b. Fotografia p&b, dançando na relva. Nessa caixa havia muitos desenhos coloridos... É possível que tenham levado os blocos com desenhos e aquarelas de flores e paisagens... Faz tempo que mexi nessa caixa, colocando os cadernos e eram muitos. Ficaram os escolares com exercícios de mapas e cartografia. Caderno de desenho. Caderno de cartografia. Caderno de desenho. Caderno de geografia. Caderno de desenho – espiral de capa grossa. Caderno de cartografia. Caderno de cartografia. Desenhos – grafite. Chifre – guampa; caneca com alça pousada no chão; mão, punho fechado; jarra caída com tampa, volutas; pé; vaso quebrado; garrafa; cubos; figuras geométricas, triângulos, compactos, bloco figuras no verso oito folhas, triângulo caído. Dez desenhos soltos. Ficha técnica: “... Cartas... caixa sobre a ESCADA... 12 de maio de 1999... 13h30min. até 15h30min. ...”.

02 de junho de 1999. Ajuntamento da incontrolável separação das coisas. Ficha técnica: “... Fotografias... para a malinha... 02 de junho de 1999... 14h40min. até 16h45min. ...”.

10 de setembro de 1999. Lote encontrado a céu aberto ao redor de um poste. Deslocamento. Lista. Cinco pares de óculos. Quatro porta óculos. Azul-marinho com metal prata, plástico. Preto. Bege. Estampado com margaridas. Bolsa vermelha, de plástico, com fechadura, zíper, ótica, dentro colar com medalhinhas, luas e estrelas douradas. Medalha. Três cabides para calça e terno, madeira e metal, par de pantufas pretas, colar de pérolas de três voltas, maromba, espelho com moldura de metal, caixa de madeira marchetada, alfinete com bandeira... pulseira com medalhas, flanela. Barra de chocolate ao leite, botão forrado de azul, botão com bandeira, três botões nacarados em azul-calipso e laranja +3=6, corrente, trevo para lenço, corrente de banheiro, saco de algodão-cru para carregar dinheiro com alfinetes, rede de cabelos, duas argolas, pulseira, um real e cinqüenta e sete centavos, niqueleira de plástico rosa-azul, chapéu para brinquedo, pote de arnica com pérolas, vidrilhos e latinhas, maromba com pérola pequena, porta moedas, pegador dourado, broche, coleção de medalhinhas, luas, dois botões forrados com tecido cinza, par de abotoaduras Cruz de Malta, botões forrados de verde, abotoaduras com homem de barrete, broche com folha e strass, caixa para óculos com pérolas e corrente dourada, caixa de plástico cinza, papel. Serigrafia em vermelho e azul mostrando um ralador em imagem dupla; mostrando xícaras, bule de café com porta ovos; mostrando jogo de cartas com copo d’água; mostrando escada, balde, vassoura, escovão e escovinha, material de limpeza, pedaço de tule branco, carteira preta para dinheiro, duas ombreiras, grinalda de tule com flores em veludo-pérola, metro de faillete marinho, pedaços de jersey estampado de verde e marinho, pedaços de faillete cinza, pedaço de tule branco, bolsa, caderneta, carteira de couro, toca de banho com recortes, preto plástico, caixa... com mimosas fitas, bege, azul-anil, rosa, amarelo, verde, azul, caixa do coringa com bolsa de pedras brancas, papel de seda rosa e branco, corações dourados. Ficha técnica: “... Entrega de documentos... Recolha dos achados... 10 de setembro de 1999... 14h00min. até 16h30min. ...”.

17 de novembro de 1999. Ficha técnica: “... Fotografias antigas, documentos... fotos do teatro doméstico, cadernetas, negativos em vidro, caixas dentro de caixas com baralho, envelopes com cartas... 17 de novembro de 1999... 16h00min. até 19h00min. ...”.

19 de fevereiro de 2000. Após um sofrimento deflagrado logo depois de seu aniversário, em 09 de outubro de 1999,  Nestor faleceu, hoje. Incendiou-se outra biblioteca!

31 de maio de 2000. Definida pela contingência, a visita foi impressiva. Ao entardecer o meu olhar rebateu nas grades de madeira, parafusadas, sobrepostas às basculantes e circulou ao redor do caos no ambiente empoeirado, transformado em lugar de restauro, o qual me fez lembrar antiquários dentro dos quais desenhei às vistas de colecionadores e visitantes que circulavam. Em sentido horário, improvisei passagens até sair. Observei que os deslocamentos deixaram, às vistas, marcas da guarda da cama, do camiseiro e da penteadeira, da treliça, do armário e dos quadros na parede. Duas poltronas. Calçados, abajures, miudezas dispersas. O guarda-roupa estava chaveado e não foi possível rever os esconderijos atrás das gavetas inferiores das portas laterais, nem a engenhoca para gravatas e cintos na porta do meio. A cortina permanecia parcialmente encoberta pelo bandô, desbotado e puído, erguido pela roldana móvel sustentada por cordas enroladas num gancho próximo à janela. Cadeira sanitária. Livros retirados das estantes do armário de linhas retas e encaixes simples estavam empilhados como dominós sobre o sofá. Olhar porcelanas através das estruturas das cadeiras (ato de perspectivar). Talheres sobre tapete azul, alma da sala de leitura. Cama,  colchão, louças, panelas, pratos, talheres. Cadeira estofada, louça infantil, cadeira quebrada, jogo de colheres facas e garfos. Sapatinhos que estavam sobre a cristaleira. Caixas de papelão. Baú-galeria escancarado no meio da sala. Ausência dos relógios pequeno médio e grande. Marca do armário dos discos sobre o qual ficava a TV. Natureza morta pendurada na parede, banco do telefone, objetos espalhados. Manchas de mofo, chamuscados nas paredes; marca do prato pintado com uma faca embutida na madeira acima do canto alemão. Armários, fogão à lenha. Porta. Vidraças. Porta de folha almofadada. Plantas em vasos de cerâmica, tijolos. Máquina de lavar, tanque, panos, madeiras, canos, refugos. As lâmpadas rareavam porque, à medida da necessidade, foram desenroscadas e retiradas de um ponto, enroscadas em outro, (ruído da chave na fechadura) encontrei o tampo redondo da mesa, partes da penteadeira e os criados-mudos cercados por formas para bolo, fogareiro, panelas, lampiões, caixa, ferro, pé-de-galinha em gesso, malas, ferramentas, latas, ferrugem. Porta ovos, cadeiras, brinquedos, bules de louça, elétricos, um azul, botijões de gás, garrafas, litros, tela de serigrafia. Ensaio de iluminação (ruído riscado de um palito de fósforo na lixa); depois outros, saliências irregulares. Máquina de costura com pedal e rodinhas, impressos dourados, descascados, azeite, carretéis, fita métrica nas gavetas, brinquedos, livros, revistas, guarda-chuva, orifícios na louça, molduras, rádios, cadeiras, basculantes. Diálogo embreante: como se chama ‘aquilo’? “... Aquilo [CÂMARA ESCURA]...” = equivalências. Parede-armário com portas nas extremidades, uma chaveada e a outra para entrar e sair. Casa, copa-de-abajur, chapéu, papéis e lata de cera, objetos que repousavam sobre tábuas próximas, no vão. Roupas, colchonetes, acolchoados de penas, berço. Bíblia (ruído do folhear) escritos, cadernos com guaches, desenhos, alternância de folhas em branco e de seda, estampas emolduradas, recortes em madeira, poemas, propagandas, espelho com decalque, cesta, falso-armário com livros, esconderijo para malas e baús com fotografias. Ensaios de iluminação, palitos de fósforos (ruído do ato contínuo de riscar a lixa). Cabeceiras e peseiras de camas empilhadas. Através da janela gradeada, via-se a noite acentuando a sombra nos cantos sob débil iluminação. Portas frouxas necessitam de dobras grossas para fechar, espremidas como línguas para fora da boca. Cômoda, gavetas (ruído do ato de puxar e abrir), latas, toalhas, caixas, caligrafia em cartões e bilhetes, flores de plástico, caixas, porta jóia, espelho, batom, álbum (ruído do ato de manusear folhas), tecidos, caixa com dezenas de botões, carteira de festa, caixa, plástico, orquídea, luva, bambi, colar (ruído do ato de revolver contas), boneco, canudos, tubos para diplomas, folhas de parreira (odor de parreira), sapatos, botas para chuva, cacos de espelho, garrafas, panelas. Antigamente havia duas camas com as cabeceiras encostadas na estante dos bibelôs (ruído de ato de aproximar porcelanas). Buraco na parede. Quero fazer o que ainda não fiz aqui, fotografar os deslocamentos considerando esta casa ainda subdividida. Cepilho com cola, bonecas no baú chaveado, berço, sacola. Cadernos com pinturas e desenhos. Armário embutido com portas em relevo art-nouveau, caras de bonecas, violino, a viola (ruído do ato de deslocar uma falsa parede). Caixas de papelão, letras em madeira para placas tumulares, nomes, lanterna, busto de porcelana, fotografias (ruído do ato de caminhar no assoalho de madeira). Pasta de couro com jogos para chá em porcelana (ruído do ato de aproximar porcelanas). Fotografia (ruído do ato de superpor molduras), molduras ovais com vidro bombeado – retrato retocado de criança sobre fundo verde, ela parece boiar sobre a água, ou seria um Moisés do século XIX? Caixas, bonecas, ferros retorcidos, vidros para porta-retratos de arame (ruído do ato de fechar uma gaveta), cintos, saia, cabide, ráfia, brinquedos, louças (ruído do ato de arrastar caixas), entalhe em madeira retangular, escultura de mulher segurando uma flor, molde, encaixes na parede atrás do sofá (ruído do ato de deslocar o sofá e a falsa parede), telhado, armário embutido na tábua mata-junta (ruído do ato de esbarrar numa cadeira de balanço), fotografia, sacolas, cabide atrás da porta. Bolsa com tufo de retalhos, camuflados como a história. Ensaio de iluminação com palitos de fósforo (ruído do ato de riscar a lixa). Cadeira verde. Caixas de papelão. Cadernos, estampas. Fotografias (ruído do ato de caminhar sobre o assoalho de madeira). Móveis. Ensaio de iluminação (ruído do ato de apagar a luz). Gaveta da mesa do canto alemão, talheres, colheres em forma de agulha, caixa com colherinhas, faca com bainha, cabo de madeira preta, garfo de ponta fina em formato de forquilha para bodoque (ruído do ato de arrumar talheres revirados). Adaga. Coador de chá. Cálice de um gole com argola de metal entre o cabo e a tulipa. Xícaras de café. Balcão. Poltrona. Remédios, termômetro, lupas, óculos. Caixas com fotografias e postais no armário verde com respiros em tela. Açucareiro. Bíblia. Pratos brancos e ovais com relevo nas bordas, vaso de porcelana com ramalhetes coloridos, vaso estampado. Aspirador de pó, geladeira, armários verdes suspensos, louça, cortador de ovos, frutas e legumes (ruído do ato de arrastar portas sobre caixilhos paralelos como locomotivas nos trilhos), copo de plástico, copo de vidro desenhado à mão, cristal doméstico (ruído do ato de bater um copo no outro). Vidro transparente, queijeira, fogão (odor de mentruz), caroço de abacate no álcool é bom para reumatismo. Pá, cinzas, livros de receitas culinárias, sacos de embrulho, barbantes. Papel estampado no interior das subdivisões do banco verde que contorna o canto alemão. Prendedores de roupa, tão redondos, para não rasgar ou trancar a roupa. Carne. Panela de ferro na palma da mão. Fogão à lenha, lamparina. Desenho de rosto a bico de pena em tamanho postal. Marca do espaldar da poltrona grande na parede. Balcão, natureza morta, bolso da capa de chuva preta, ganchos do cabide, pedaço de papel, escritos bíblicos (ruído do ato de manusear papel), quebra corações, ungindo na luz, orações sensuais, tudo ponta cabeça, tira de papel, fechando portas, interrupção. Ficha técnica: “... na casa... 31 de maio de 2000... 17h00min. até 20h10min. ...”.

10 de julho de 2000. No percurso cambiante pelo PAVIMENTO TÉRREO da casa desabitada, verifiquei pormenores na estrutura, interna e externa, do mobiliário em restauração, confeccionado em madeira de imbuia (Ocotea porosa) e pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia), na primeira metade do século XX. Diálogo embreante: o que é ‘isso’? “... isso [rabo de andorinha] [cauda de andorinha] = equivalências. Ferramentas devem ser conservadas através do uso. Coleção de ferramentas. As composições desafiadoras apresentavam plasticidade e poderiam ser expostas como peças esboçadas ou começadas, inacabadas, penduradas, como lembretes, em escoras – mesa sem o pé, mesa sem a travessa [dormente, trave, viga], chão [base, soco, pedestal]. Oportunidades perdidas na situação inesperada do gesto irrefletido. Descoberta de motivos. Interrupção da imobilidade e da gravação. Questão de deslocamento. Questão de disposição. Questão de tempo. Móveis roídos. Desenho sobre o pó. Caminhos no pó. Ficha técnica: “... passeio pela casa... 10 de julho de 2000... 14h55min. até 16h00min. ...”.

26 de outubro de 2000. Ensaio fotográfico. Janelas gradeadas para proteger o mobiliário, em deslocamento. Peças cobertas por lençóis brancos. Foram retirados os acessórios de decoração, luminárias, quadros, livros, relógios.  Ficha técnica: “...  flores secas – rosas de um envelope – Floricultura Primavera – fita verde-furtacor com bege, galhinhos de quebra-pedra – dentro de uma bolsa – chapéu veludo preto com filó – caixa de madeira com tampa de correr com chave e fio de pesca – tamanho 4x4cm. – caixa de papelão verde 7x4cm aprox. contendo no interior: crucifixo cor-de-rosa com Cristo dourado; imagem de papel com anjo iluminando criança + 13 figuras recortadas... 26 de outubro de 2000... 09h10min. até 13h40min. ...”.

07 de novembro de 2000. Ensaio fotográfico. Ficha técnica: “... guarda-roupa... engenhocas... falso armário – blocos... 07 de novembro de 2000... 08h45min. até 13h00min. ...”.

08 de maio de 2001. Ensaio fotográfico. Percebe-se o abandono quando a natureza invade a casa aproveitando as fendas e as frestas. As trepadeiras esticam os ramos até alcançar um suporte para enroscar e crescer em volteios. Fazem isso quando ninguém está vendo, aumentam em silêncio. As pontas das folhas apontam para a criação. A parede, suja, vertente de água escorrida permanece indiferente. O forro do DEPÓSITO ameaça cair, inchado de umidade. Ficha técnica: “... cinco livros... cadernos, caixa com agulhas de eletrola; 154 cartões de festas; dado de madeira; cabelo;  flores em buquê; risco para bordar; envelopes... 08 de maio de 2001... 15h00min. até 18h00min. ...”.

02 de outubro de 2001. Planta em papel vegetal e grafite e lápis-cor. Ensaio fotográfico. Ficha técnica: “...  mala com cartas... 1) desenhos... – duas pastas; 2) ... lâminas de compensado de “radica”; 3) Carteira sanitária; 4) três negativos em vidro – cenas-mudas; 5) Planta... e dependência; 6) caixa redonda, marrom, seda especial; 7) cinco mini-pratos de porcelana pintura; 8) coração de papelão; 9) “model new”, 1892” – tubo metálico; 10) caixa de fósforo ponta azul. Devolução de 17 peças – cartões, carta e livreto: A grande alegria;  11) 22 peças de bonecas – roupas; 12. Mala... contendo cartas, fotografias, correspondência em geral... 02 de outubro de 2001... 14h30min. até 17h50min. ...”.

23 de abril de 2002. Ficha técnica: “... Ensaio (breve) fotográfico... vistas as caixas, fotografias – SÓTÃO – fotografias dos jogos de louças no guarda-roupa... 23 de abril de 2002... 15h15min. até 18h30min. ...”.

19 de dezembro de 2003. Ficha técnica: “... Álbum de fotografias – postais do Rio de Janeiro, 17x11,5cm.; foto... carro; buquê; negativos; foto... flor; outra foto de criança; envelope Foto Brasil; outra foto de casal... Caderno de desenho – crayon 11; Caderno de desenho;  Caderno de cartografia; Caderno de cartografia; corpo de boneca; caixa de negativos Eisenberger –  Picniks – Extra-Rapid Platten; caixa de negativos – Parentes e Antepassados – Extra-Rapid Platten Eisenberger; cabeça de boneca (prótese); boneca menor com o corpo inteiro; caixinha em plástico verde contendo 102 botões pequenos. Álbum de vistas; busto de boneca (latão); corpo de boneco (pequeno); corpo de boneca (cabeça em porcelana e corpo em tecido); cabeça de boneca (loura) e corpo em tecido; cabeça de bebê (com equipamento); bebê com braço quebrado; fivela redonda; fivela quadrada; cabo; braços; aparelho para fazer crivo... 19 de dezembro de 2003... 15h00min. até 20h00min. ...”.

20 de dezembro de 2003. Acondicionamento precário, chapas grudadas. Ficha técnica: “... seis caixas Eisenberger; caixa Persenso Otto Perutz; caixa Hauff; caixa Jdrag; caixa Leonar; caixa Mimosa-Platte; caixa Cevaert Film-Pack; sete caixas (lata) – quatro Agfa – duas s/identificação – Melachrito –; 10 caixas Agfa (papelão); latinha Novotherapica; boneca... 20 de dezembro de 2003... 12h20min. até 12h45min. ...”.

07 de maio de 2004. Ficha técnica: “... fotografias... Álbum grosso (verificação); Camp. – Salto do Meio (álbum, 01/08/29); placas de madeiras (para túmulos) com os nomes... carte-de-visite (14 exemplares) foto Sol Young... Gullickson, foto... foto de casal, cartão postal, casal com filhos, foto p&b cinco pessoas; paisagem; oito decalques; foto p&b... s/cavalo; sete postais diversos; foto; foto de casal 1931 – palheta de aquarela, catálogo... planta baixa da garagem; + três postais; quatro cartões de Natal; fole “correspondense” com paisagens + cartão de Natal... 07 de maio de 2004... 14h30min. até 18h45min. ...”.

18 de agosto de 2004. A casa à Rua Dr. Trajano Reis, 571, foi vendida. Os procedimentos metodológicos estão encaminhados e obtive autorização para continuar o Projeto. Espero por seu esvaziamento para tratar das marcas nas paredes e decidir o que fazer com os esconderijos/ buracos que sugerem cortes/ passagens/ extrações, o procedimento usado por Gordon Matta-Clark em Bronx Floors, 1972-73. Manhattan, Bronx, and Brooklyn, New York, é um exemplo da inserção de luz na arquitetura.

02 de setembro de 2004. Empacotamento. Conjunto de porcelana (s/ marca) branca, rosa com frisos dourados (pintura floral nas cores vermelho, rosa, verde, amarelo, dourado em relevo), composta por 15 peças, a saber: seis pires, seis xícaras, leiteira, cafeteira com tampa, açucareiro com tampa. Encontrado entre folhas de jornal, dentro de uma pasta de couro marrom no guarda-roupa do QUARTO 3, foi deslocada para o PAVIMENTO TÉRREO e depois para o meu ateliê com a finalidade de estudar as possibilidades plásticas uma instalação acompanhada de ações performáticas no ritual do chá e a contemplação de fotografias. Antes de devolvê-los fiz um ensaio que permanece na revelação em rolo de copião apresentando as etapas do soterramento de cada objeto embrulhado em folhas de papel de seda branco e plástico bolha transparente, do fundo à boca da caixa, de papelão, lacrada, posteriormente. Depois, fiz o empacotamento de um outro lote, este composto por uma escultura em madeira de imbuia (mulher segurando uma rosa), medindo 38cm., aproximadamente; a figura está sobre pedestal 11,6x10,6x2,7cm.. Calendário em madeira, cuja base mede 26x15,8cm., aproximadamente, e, serve de apoio para porta caneta, um indicador rotativo do dia da semana e do mês e, porta notas em cuja tampa há uma paisagem (vegetação com coqueiro, casa e rio), em marchetaria. Caixa em madeira – porta-níqueis com papel colado, onde está escrito à bico de pena, na tampa, medindo 15,4x10,4x8,7cm., aproximadamente.  Carteira contendo fotografia em sépia, capa de couro marrom, com letras douradas, medindo 14x10,5cm.. Caderneta com capa dura na cor marrom (com letras impressas em preto e caligrafia a bico-de-pena), medindo 17,5x13,8cm., de 1915-1922. 24 p.. Passaporte consular com capa dura na cor bordô (apresentando o brasão do país americano, friso e letras, dourados), medindo 18,8x15,4cm., 1928, 32 p.. Conjunto de 30 fotografias em diversos tamanhos, em p&b. Ficha técnica: “... devolução de objetos... 02 de setembro de 2004... 17h00min. até 17h30min. ...”.

14 de dezembro de 2004. Ficha técnica: “... Seleção de objetos remanescentes na casa da Rua Dr. Trajano Reis, 571 – cartões de festas, jarros, garrafas da ADEGA... 14 de dezembro de 2004... 14h30min. até 17h00min. ...”.

19 de dezembro de 2004. Filmagem rápida. A filmagem se estendeu à casa de baixo, a mais antiga. Ficha técnica: “... primeira filmagem da casa da Rua Dr. Trajano Reis, 571... 19 de dezembro de 2004... 14h30min até 16h15min. ...”.

19 de janeiro de 2005. Havia lixo ao redor da árvore, na calçada. Os carrinheiros passariam, mais cedo ou mais tarde. Choveu e as coisas estavam empapadas – mesmo assim, recolhi a estrutura de um guarda-chuva, presa ao cabo de madeira com apoio triangular. Folhas de revistas e jornais, vidros, canecas para chope, santos em gesso, a fotografia de casal – retocada em preto e branco, carvão e giz, grafite, tingiam os dedos, ao mínimo toque – constituíam-se nos objetos abandonados, espalhados no chão. Foram retiradas as grades sobre as janelas e as basculantes; as bandeiras de vidro e portas com folhas duplas almofadadas, restando as guarnições. Perdeu-se a sensação de aprisionamento, dramática, restando as fotografias que fiz, anteriormente, e isto comprova a sua dimensão enquanto linguagem plástica. O dia, nublado, escureceu lá dentro. Por isso, a filmagem foi adiada, mesmo que o percurso estivesse definido pelo olhar cravado na seqüência das paredes e passagens, em sentido horário, entrando e saindo pela porta da frente. Ficha técnica: “... Revisão do local para filmagem... 19 de janeiro de 2005... 15h30min. até 16h30min. ... Revisão do arquivo fotográfico... 19 de janeiro de 2005... 17h00min. até 19h00min. ...”.

20 de janeiro de 2005. A queda da moldura de uma antiga imagem de Cristo no horto das oliveiras  Christus am Oelberg  Our Lord on the mount of olives  Christ sur la montagne des oliviers  Cristo sull’oliveto  Cristo en el monte de los olivos  Chrystus na Górze Oliwnej  Kristus na hoře olivetske  Chrysto nas oliveiras foi um experimento para a abertura do filme. Esquecida num canto da casa, ela foi recolocada sobre sua própria marca na parede e recebeu a vibração dos golpes de um martelo de borracha no HALL DE ENTRADA, do outro lado, o que  provocou a soltura do prego que sustentava o peso facilitando o deslizamento do suporte em direção ao assoalho do QUARTO 1. Essa manobra foi repetida e conservada no dispositivo. A moldura sem dano, onde ficou, permaneceu. Através das janelas da frente refletiram-se retângulos inclinados competindo com outras marcas, mais claras, dos objetos deslocados das paredes amarelo-renascença. O chão estava limpo e aquele entulho ao redor da árvore, na calçada, continuava a ser escolhido; a porta estava aberta e o externo era visível. A luz natural que entrava pelas janelas basculantes da BIBLIOTECA e da sala de JANTAR, não foi suficiente. A claridade, era como se ela se mostrasse da janela para fora; não incidia sobre o ambiente visado – o escaninho sob o primeiro degrau do segundo lance da ESCADA e a ADEGA, esta foi aberta e fechada para filmagem das fileiras de latas de azeite e garrafas de vinho cujas rolhas não foram trocadas como deveriam e apodreceram facilitando a passagem de ar. Em conseqüência, parte do líquido oxidou, formando uma pasta, no fundo. Diante do inapreciável, pensei em utilizar o restante para desenhar, recuperando o material encontrado no lugar, referenciando experimentos com o lixo urbano, isto é, garrafas de soda e cerveja fundidas em obras como Glass Ingot [lingote de vidro] e Glass Plant [planta de vidro], por Gordon Matta-Clark (1943-1978), em Nova York, em 1971. Enquanto cogitava a respeito da relação entre a perspectiva presente e a passada, foram gravadas as sombras móveis provocadas pela artificialidade de um bico de luz, em suspenso; e os ruídos dessa movimentação. Ficha técnica: “... início da filmagem – PAVIMENTO TÉRREO... 20 de janeiro de 2005... 14h00min. até 18h00min. ...”.

21 de janeiro de 2005. A iluminação consistiu num único bico de luz, móvel, favorecido pelas cores da casa.  Colocado dentro da ABERTURA 1, atingiu a ABERTURA 2. O armário com portas para livros, embutido na parede do QUARTO 2, estava desconectado das dobradiças, foi filmado fechado; arrastado, para dentro, foi aberto aos poucos até o foco de interesse que era a ESTRUTURA DO TELHADO. Da porta de inspeção da CAIXA D’ÁGUA, podia-se ver as vigas e as pernas e as linhas horizontais das tesouras. Ficha técnica: “... continuação da filmagem – SÓTÃO... Duração da gravação (bruto) = uma hora... 21 de janeiro de 2005... 13h30min. até 18h00min. ...”.

25 de janeiro de 2005. Recorte da filmagem. As imagens sacrificadas poderão render outro filme. A palavra ‘renderização’ me fez lembrar dos buracos próprio das rendas, das microfibras, dos tecidos. A casa estava esburacada por extração dos pregos e ganchos nas paredes; presta-se à fotografia. Ficha técnica: “... início da edição do DVD Vídeo... 25 de janeiro de 2005... 14h30min. até 19h30min. ...”.

27 de janeiro de 2005. Opção para o fechamento. Ficha técnica: “... continuação da edição do DVD Videoarte... Ver catálogo de clichês: mãos; ver “Tu m”, 1918, de Marcel Duchamp... 27 de janeiro de 2005... 14h00min. até 19h30min. ...”.

28 de janeiro de 2005. Experimento musical composto a partir dos ruídos provocados pela movimentação durante a filmagem, intercalados por Music for Duchamp. O tempo do filme é determinado pelo som, é isso? A construção de um filme, exercício de descontinuidades, depende de ação grupal que não deixa de ser uma ‘distração estética’. Até concluir o procedimento são necessárias autorizações e pagamentos que transformam o prazer estético em mercadoria. Impedimento da interiorização, ver à distância. Ficha técnica: “... continuação da edição e princípio da sonorização... Music for Duchamp, 1947, de John Cage... 28 de janeiro de 2005... 14h00min. até 19h00min. ...”.

31 de janeiro de 2005. Foram deslocadas as maçanetas das portas dos armários, as luminárrias, as engenhocas penduradas no forro da COZINHA. Levantei a tampa da ADEGA e desloquei as garrafas, de dentro para as laterais externas; fotografando com a cabeça lá dentro até rastejar por baixo do assoalho, realizando com esse equipamento a idéia de desenhar um plano visto de outro. Repensei nas garrafas de soda e cerveja fundidas por Matta-Clark.  Mesmo que eu quisesse fazer um experimento, o de tentar fundir as garrafas no forno do fogão, o “econômico” foi vendido para um ferro-velho; à mostra, os azulejos e tijolos despedaçados, buracos, pó. Escolhi as garrafas que continham vinho e desloquei o material para o meu ateliê no período da manhã. Mais tarde, retornei para acompanhar as medições. Ficha técnica: “... Levantamento arquitetônico... 31 de janeiro de 2005... 14h00min. até 18h00min. ...”.

02 de fevereiro de 2005. Roteiro: questões iniciais. Filmagem por etapas. O que impede a continuidade? Condições de mobilidade e de visibilidade, fios curtos, disposição das tomadas. Tempo de filmagem no espaço retangular no domínio triangular = uma hora (bruto). Geometria aparente → aproveitamento dos recursos → sítio específico ≠ do sítio virtual → iluminação: artificial nas partes escuras = sala de JANTAR + ESCADA → via de acesso: o que pode ser aberto ou fechado? = portas → interagir no cenário sem ser visto → objetivo do truque: visão de um espaço através de outro – distância do ponto de vista horizontal, pés no chão e o olho na lente. De cima para baixo, do ponto de vista vertical = profundidade. Linhas retas → Gravação de ruídos provocados por atos de abrir = aparência das passagens = portas. Escaninho sobre o primeiro degrau do segundo lance da ESCADA → Focos de iluminação, formação de degraus sobre degraus por efeito do balanço da lâmpada. A tampa empenada do escaninho sugere que, mesmo fechado, permanece um vão indicando que existe algo por trás. O que há por trás? O vazio → interferir tocando a extremidade com a ponta dos dedos, colocar o corpo em movimento até o repouso espontâneo = experimentação. Descascados, pregos retirados e sombras refletidas pela passagem dos carros → sombra que desloca o assoalho na superfície interna da ADEGA, pontos de luz entre as telhas, entre as telhas e as calhas. O que há depois? A claridade do dia → furo na parede, feixe de fios entrando na parede → Eliminação de imagens repetidas, valorização de detalhes do QUARTO 3 para a CAIXA D’ÁGUA na ESTRUTURA DO TELHADO. Ficha técnica: “... conclusão do vídeo... 02 de fevereiro de 2005... das 14h00 às 19h00mim. ...”.

04 de fevereiro de 2005. Revisão do conjunto fotográfico. 1. Caixa de papelão – Leonar, contendo 16 chapas em vidro, maiores, médias e pequenas (retangulares, “Extra-Duro” e uma oval); uma etiqueta. 2. Caixa de papelão, Eisenberger – “Picniks”, contendo sete negativos em vidro, 12x9cm. e 10 negativos em celulóide, 12x9cm.. 3. Caixa de papelão, Eisenberger – “Carnaval”, contendo oito negativos em vidro, 12x9cm. e cinco negativos em vidro, 9x6cm.. 4. Caixa de papelão, Eisenberger – “Parentes e Antepassados”, contendo 17 negativos em vidro, 12x9cm. e três negativos em celulóide, 9x6cm.. 5. Caixa de papelão, Eisenberger – “Grupos”, contendo 17 negativos em vidro, 12x9cm.. 6. Caixa de papelão, Eisenberger Extra-Rapid Platten, contendo cinco negativos em vidro, 12x9cm.. 7. Caixa de papelão, Eisenberger Extra-Rapid Platten, contendo cinco negativos em vidro, 12x9cm. e seis negativos em celulóide, 9x6cm.. 8. Caixa de papelão, Perutz, contendo outra caixa (de papelão) Perutz-Persenso-Extra-Rapid com quatro Platten, 9x6cm.. 9. Caixa de papelão, Agfa-Extrarapid-Platten “Fazenda Curytiba } 1932”, contendo 15 negativos em vidro, 12x9cm.. 10. Caixa de papelão, Hauff-Leonar “Matinhos”, contendo 14 negativos em vidro, 12x9cm. e 17 negativos em celulóide, 9x6cm.. 11. Caixa de papelão, Agfa – “Chapas estragadas”, contendo uma tira com negativos em celulóide (esculturas); cinco negativos em vidro, 18x13cm. (Carnaval – garrafas de cerveja, pierrôs etc.); um negativo em vidro, 12x9cm.; envelope com 45 negativos de celulóide, medindo, respectivamente 11x6,5cm. (15), 9x6cm. (18) e 6,5x4cm. (12), aprox.. 12. Caixa de papelão, Agfa-Chromo, contendo 12 chapas de vidro (algumas quebradas), medindo 15x10cm., aprox.. 13. Caixa de papelão, Agfa-Extrarapid-Platten, contendo três negativos em vidro, 12x9cm., aprox.. 14. Caixa de papelão, Agfa-Extra-Rapid-Platten, contendo 18 negativos em vidro, 12x9cm.: um dos negativos deve ter servido de referência para o desenho à nanquim que estava acima da poltrona da na sala de JANTAR. 15. Caixa de papelão, Agfa-Extra-Rapid-Platten – “Chapas estragadas”, contendo três negativos em vidro, 12x9cm.. 16. Caixa Agfa-Extra-Rapid-Platten, contendo um envelope com pó dourado. 17. Caixa de papelão, Agfa-Extrarapid Platten, contendo três negativos em vidro, 12x9cm., e um envelope com seis negativos de celulóide, cada um medindo 11x7cm., aprox.. 18. Caixa de papelão, Jdrag, contendo 10 negativos em vidro, cada um medindo 15x10cm., aprox.. 19. Caixa de papelão, Mimosa-Platte-Extrema-Ortho, contendo cinco negativos em vidro, 12x9cm.; sete negativos em celulóide, 12x9cm.; dois negativos de celulóide, cada um medindo 10,5x6,5cm., aprox.; dois negativos de celulóide, cada um medindo 9x6cm., aprox.. 20. Caixa de lata, Agfa-Extrarapid-Platten, contendo quatro negativos em vidro, 12x9cm.; e oito negativos em vidro, 9x6cm.. 21. Caixa de lata, Agfa-Extrarapid-Platten, contendo nove negativos em vidro, 12x9cm. e um negativo em celulóide, 12x9cm.. 22. Caixa de lata, Agfa-Extrarapid-Platten, contendo um negativo em vidro, 12x9cm. e 13 negativos em celulóide, 12x9cm.. 23. Caixa de lata, Agfa-Filmpack, vazia. 24. Caixa de lata, Agfa, contendo 123 negativos de celulóide, medindo 8x6cm. cada um, aproximadamente. 25. Caixa de lata, Melachrino & Co. Cigarette, contendo quatro pedras, de tamanhos diferentes. 26. Caixa de lata, sem identificação, contendo objeto não identificado. 27. Pacote com 12 negativos em vidro, 12x9cm.. Caixa de papelão, Agfa-Filmpack, contendo 30 fotografias de diversos tamanhos, em p&b. 28. Caixa de papelão, Agfa-Filmpack, contendo 47 fotografias de diversos tamanhos, em p&b. 29. Caixa de papelão, Gevaert Film-Pack, contendo cinco negativos em vidro, 12x9cm. e um envelope com 42 negativos de celulóide, cada um medindo 8,5x5,5cm., aprox.. 31. Envelope Agfa contendo 109 negativos de celulóide, medindo, respectivamente, 11x6,5cm. (46); 8,5x5,5cm. (59) e 6x6cm. (quatro), aprox.. Ficha técnica: “... empacotamento e devolução de objetos ... 04 de fevereiro de 2005... 10h30min. ...”.

25 de abril de 2005. Ensaio fotográfico: verificação de detalhes internos e externos do HALL DE ENTRADA  e do HALL DOS FUNDOS, do espaço de chegada do DEPÓSITO, do armário de canto em madeira, da superposição das prateleiras, dos degraus e do teclado do teletipo; das pinceladas brancas, verdes, pretas, rosadas em tábuas, rompendo com a geometria das paredes e forro paulista da CÂMARA ESCURA; das vidraças, basculantes e portas da GARAGEM; das ferramentas de trabalho, desenhos geométricos nas lajotas, rachaduras, tijolos, vazamentos e encanamentos, elementos de apoio, cabideiro, fechadura, tomadas, ALÇAPÃO no BWC; os buracos elaborados pelos cupins nos marcos das janelas, degraus da ESCADA e assoalho; riscos à lápis de cera e descascamento nas paredes amarelo renascença; o breu do lado de dentro da basculante e o dia lá fora. As teias de aranha da ABERTURA 1.

13 de maio de 2005. Vem ocorrendo uma adaptação de procedimentos ao destino da casa da Rua Dr. Trajano Reis, 571. Cedo, pela manhã, fui informada que uma parte seria pintada de branco, o QUARTO 1 e a BIBLIOTECA. Saí às pressas com o equipamento porque os pintores estavam aguardando. Durante três horas, aproximadamente, fotografei a eliminação das marcas nas paredes amarelo-renascença, por meio de rolo e pincel, a quatro mãos. A performance pictórica foi executada com o objetivo de reutilizar o espaço, temporariamente; foi um processo lento e realista sob a variação da luz solar.

28 de outubro de 2006. Caminata urbana no labirinto do Parque Chaz, organizada por Esteban Ierardo, na Ciudad de Buenos Aires... El Libro de los pasajes, as citações de Walter Benjamin, encontrado numa livraria de Buenos Aires, sobressai enquanto discurso indicativo de autores com Balzac, Proust e Poe; assim como a obra Cómo vivir junto, de Roland Barthes.

24/25 de novembro de 2006. Confronto com a obra de Gordon Matta-Clark, pela primeira vez, na 27ª Bienal de São Paulo, desfazendo o dilema inicial, isto é, a dificuldade de refletir sobre o que não está distante dos olhos. Fotografei seqüências nas paredes reconhecendo as montagens feitas pelo artista e semelhanças nos cômodos das casas de madeira. Da minha parte não houve averiguação a respeito da utilização de imóveis abandonados para desenvolver a minha poética visual enquanto o poder público decide o que fazer com eles; imóveis vazios destinados à demolição para execução de projeto de reurbanização a exemplo Splitting [Partición – Rachando] e Bingo como fez Matta-Clark: ‘cortes’ e ‘extrações’, violações em ‘lugares’ cuja transição natural seria a ruína ou a demolição. Assisti e fotografei cenas de Splitting e Bingo, rodados em projetor de filme 16mm., modelo Compact T-25. Fotografei seqüências de imagens dos filmes transferidos para DVD, em movimento, conforme a posição dos dispositivos na parede do local – Food, 1972 , 16mm., 43min.; Open House [Casa aberta], 1972, 16mm., 41min.; Fire child [Criança de fogo], 1971, Super 8, 9min. 47seg.; Tree dance [Dança de árvore], 1971, 16mm., 9min. 32seg.; City slivers [Lascas de cidade], 1976, Super 8, 15min.; Fresch kill, 1972, 16mm., 12min. 48seg.; Conical intersect [Intersecção cônica], 1974, 16mm., 18min. 40seg.; Day’s end [Fim do dia], 1975, 16mm., 23min. 10seg.; Clockshower, 1973, 16mm., 13min. 50seg.. A duração variada dos filmes proporcionou um exercício de paciência para concluir a tarefa que me predispus a realizar, isto é, de conhecer a obra que se apresentava à disposição; enquanto começava um filme, outro continuava e outro que terminava, sem cadência. Durante as horas em que estive sentada naquelas bancos, percebi que visitantes passavam, sentavam para assistir uma ou outra projeção e seguiam adiante. A performance de Matta-Clark e a de seus amigos, sim eles eram exibicionistas, se repetia num ir-vir-abrir-fechar de portas a exemplo de Open House, conteiner dentro do qual circulei fora do Pavilhão e concluí que há uma limitação permanente. Se o meu dilema inicial consistiu em escrever amparada pelas palavras de especialistas sem ter tido contato direto com as obras; aconteceu o apaziguamento.

07 de dezembro de 2006. Acompanhei o desmonte no SÓTÃO em forma de cruz subdividida em duas partes por uma divisória de compensado de um lado e de tábua mata-junta do outro. Deslocamento das duas portas de acesso, das tábuas de dois guarda-roupas e um armário; da área de repouso para a calçada. Ficou o vazio delimitado pela abundância de inclinações, desníveis e alinhamento geométrico, por partes complementares. A alvenaria amarelo-renascença no correr da ESCADA, ela era interrompida no topo por uma divisória perpendicular em compensado reforçado, continuando até o extremo externo. Janelas de guilhotina abertas pela metade por meio de borboletas, ou cobertura em plástico. Esquecimento. Do outro lado, no canto à esquerda, essa divisória amparava o guarda-roupa externamente verde como todo o perímetro; na verdade uma falsa parede com portas de madeiras lisas, paralela a alvenaria de fundo branco, permanecendo as marcas das prateleiras. Varão para os cabides, dois vãos para ESTRUTUTA DO TELHADO. Contraste é do compensado reforçado com FORRO em cepilho e cola com acabamento em inclinação para a ESTRUTUTA DO TELHADO. No QUARTO 3, ao puxar o guarda-roupa para fora do nicho ficou à mostra a tábua mata-junta, vertical, horizontal e inclinado tendo o prego no sistema de fixação dos encaixes do armário com prateleiras profundas em confluência com o FORRO paulista pintado de cinza. O ritmo da modulação tábua mata-junta vertical protegida por pintura rosada, com textura de superfície áspera por descascamento de tinta, teias de aranhas e lascas de madeira grudadas nas paredes. O assoalho de tábuas e o FORRO paulista, confluência de linhas retas. Vedação horizontal no vão para a CAIXA D’ÁGUA na ESTRUTURA DO TELHADO, cada vez mais visível entre um assoalho do SÓTÃO e o FORRO do PAVIMENTO TÉEREO. Armários encostados no DEPÓSITO.  O deslocamento do entulho foi feito pelas duas escadas e colocado na calçada, ao redor das árvores; os carrinheiros não demoraram  a chegar, um após o outro. Em seguida, iniciei o ensaio fotográfico pelos nichos intercalando as cores e as marcas das paredes com ornamentos funcionais e arremates geométricos. O espaço de chegada da escada que liga os pavimentos do DEPÓSITO, composta por tábuas pregadas em cremalhareiras laterais, sendo que uma encostada na parede de alvenaria rústica.  Ficha técnica: “... Ensaio fotográfico desmonte no SÓTÃO e DEPÓSITO, deslocamento de obras mortas... 07 de dezembro de 2006... das 09h00min. até 15h00min. ...”.**

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                      * Didonet Thomaz. Artista visual e pesquisadora. Especialista em História da Arte do Século XX, EMBAP – Escola de Música e Belas Artes do Paraná, Curitiba, Paraná. Mestre em Artes Visuais, ECA – Escola de Comunicações e Artes, USP – Universidade de São Paulo. São Paulo. Membro e Representante da  ANPAP – Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas, no Paraná, Brasil.

                      ** Trechos do Diário de pesquisa incluídos na Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, Área de Concentração: Poéticas Visuais, Linha de Pesquisa: Processos de Criação em Artes Visuais da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do Título de Mestre em Artes, sob a orientação do Professor Dr. Donato Ferrari. Disponível na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da Universidade de São Paulo, a partir de 1° de julho de 2007.

 

 

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